domingo, 2 de fevereiro de 2020

Eu tenho vergonha quando bebo e ela está do outro lado da rua



Estou no bar, sentado junto a uma mesa na calçada, e ela está do outro lado da rua, sentada em seu banco de concreto, diante de sua pequena casa toda organizada e de pintura nova. Está acompanhada do seu marido e um amigo do marido e sua cuia de chimarrão e garrafa térmica e seu cabelo brilhoso e seus brincos e aquela cara de tédio, observando-me fazer a sucção de  alguns litros de cerveja e ser consumido pelo álcool. Ela não vê outra alternativa senão ciscar com os dedos no teclado do aparelho e passear pela web, enquanto seu marido conversa com o amigo sobre o aumento do dólar. Ela faz salgadinhos sob encomenda para festas de aniversários e outros eventos. Tem uma página no Facebook com diversas curtidas. Ela está sempre alegre e receptiva e falante, e eu ouvi muitos elogios a respeito da delícia que são suas coxinhas. Quando os clientes chegam, ela fala e fala sobre diversos assuntos, mas mantém segredo a respeito dos temperos orgânicos e caseiros, que fazem com que seus petiscos tenham personalidade própria. Penso fazer terapia. É que eu tenho vergonha quando bebo e ela me observa do outro lado da rua.

(B. B. Palermo)

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