terça-feira, 27 de agosto de 2024

Vermes não amam


 

Basta entornar 2 ou 3 copos de ceva

que meus planos se alegram.

O lúpulo me relaxa e desperta

o humor.

Malucos contam vantagens sobre o seu passado

e eu não ligo, anoto num papel os meus planos

fodásticos para os próximos anos.

Mas não tem como escapar das histórias dos caras -

como enfiaram alguns milhões em sua conta,

como ganharam 1.000 reais por dia

com o aluguel de imóveis.

Deslumbrados, comentam:

- Olha só o patrimônio que ele tem!

E narram, das delícias de suas viagens,

apontando fazendas que não acabam mais:

-Tu sabe de quem é isso...

Dizem, com orgulho:

- Tudo isso é de fulano!

Pelo tom de sua fala, os caras são deuses,

e até o sol nascendo e se pondo

e os pássaros indo e voltando na primavera

é deles.

E dizem, orgulhosos, que os pobres fizeram imenso sacrifício,

não beberam e não fumaram e nem viajaram

e nem experimentaram as delícias da culinária

e tantos outros prazeres.

O que incomoda é que esses vermes, ao envelhecerem,

não terão consciência dos bens que deixarão para trás,

nem terão inveja da gurizada que pouco ou nada tem,

brindando a vida toda pela frente.

Cadelão, os vermes não enlouquecem

porque não sentem!

 

(B. B. Palermo)


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  O chão, de repente, é um cemitério de fios. Meu rabo de cavalo, breve como promessa de verão, caiu inteiro no colo do João, barbeiro rindo...