quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Chuva, cadê você, sua ingrata?



Paira no ar um desejo

messiânico de chuva.

Cada um de nós está ansioso

para captar com suas câmeras

pingos prateados despencando do céu,

transbordando de júbilo

humanos, plantas e animais.

 

Somos viciados nos chutes dos meteorologistas,

suas análises das imagens dos satélites

entupindo os noticiários,

e o que nos resta são os papos

compartilhados o tempo todo

e em todo lugar:

"Amiga, não suporto mais esse calor!".

"Gente, vocês viram quantos graus marcava

o termômetro da praça?".

"Bem feito! O homem tá pagando o preço

pela sua destruição das matas e vertentes!".

 

Um dia qualquer despencarão dos céus

toneladas de água.

Então redirecionaremos nossas preciosas metralhadoras

para outros assuntos ainda mais nobres:

"Esse BBB é um lixo! Eu que não perco meu precioso tempo

vendo essas coisas!".

"Viram só? O povo só quer saber de festa e aglomeração,

não tão nem aí pro Covid!".

 

Até em pesadelos eu imploro pela chuva.

Tenho caprichado na ingestão de líquidos,

é pau a pau a disputa entre água e cerveja.

Acho que é por isso que venho tendo

uns sonhos estranhos nas madrugadas mornas.

Estou olhando pro alto e, então, pregos

atingem minha cabeça,

e a massa cinzenta do meu cérebro

se espalha no ar feito chafariz,

como se fosse lava a jato funcionando a todo vapor,

e não dá outra, a enchente vai entupindo

sarjetas e bueiros.

 

Tem algo que eu possa fazer,

enquanto a chuva não vem

e esse calor não abranda?

E se eu tenho superpoderes,

mas nunca me preocupei com isso?

Às vezes desconfio dessa conversa

de que somos limitadíssimos,

de que não passamos de vermes

passeando na lua cheia.

Danem-se as dúvidas.

Nessas alturas escolho tranquilamente

o meio-termo:

metade água, metade cerveja.

 

(B. B. Palermo)


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