domingo, 31 de julho de 2022

Arthur

 

Arthur é um cão que chamam de Preto,

um carente de humanidade

mais do que a maioria

dos sapiens.

Circula desde cedo por entre os malucos

que frequentam o bar do Manetta.

Pobrezinho, carente de humanidade

enquanto nós somos carentes de humildade,

carentes de coragem,

carentes de dúvidas

e de sensibilidade.

Arthur merece circular também

por entre as páginas

de algum romance,

como a cadela Baleia, do Graciliano.

Ou de alguma crônica ou poema...

que seja.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Pragmatismo


 O Grêmio se estrebuchou pra conquistar

um ponto contra a Chapecoense,

numa retranca danada.

A coisa escorregava

pelas laterais e diagonais

e pencas de passes errados,

e os esforçados corriam

pra lá e pra cá.

Os papos no bar eram de indignação

dada a covardia do time,

então eu lembrei do pragmatismo, e disse:

"Um ponto fora de casa é legal".

Foi divertido, me pediram pra traduzir esse conceito

e aí desandei a falar de William James

e rolou o óbvio...

fiquei falando sozinho.

É legal saber que, mais do que praguejar contra o time,

as criaturas se empolgam quando falam de carros,

Fipes e negócios de ocasião.

Se você quer ser poeta,

saiba a pedreira que vem pela frente.

Você é de outro planeta.

Só há uma única certeza:

somos um bando de fodidos!

          

(B. B. Palermo)

terça-feira, 26 de julho de 2022

Para um amigo que partiu

 

Depois que você morre

deve ser triste

pois você nunca saberá

se teve trajetória importante

ou se caiu no esquecimento.

Pode ser triste hoje lembrar

mas é também gratificante

ter viva, pre-sen-te-men-te,

a memória de um amigo

que se foi há 10 anos.

Hoje você se toca

de que na época tinha

pouca lucidez,

você assistia futebol na TV

e estava bêbado

10 horas da noite

quando o telefone tocou.

Mas é consolador

lembrar

que o amigo que partiu

faz um bocado de falta...

 

muita falta.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 22 de julho de 2022

Vaquinha para comprar um rádio

 

A molecada carente de pedra

subiu da Vila Pedreira de madrugada

e furtou o rádio do bar do Manetta.

Nosso divino amigo sofreu de insônia nas noites seguintes,

pois era iminente o risco de outros roubos.

Então ele subiu na Belina e desceu até a vila

e puteou todo mundo, gritando:                                      

O bicho vai pegar!!

Os amigos ficamos preocupados com sua integridade física.

Entendemos que ele não precisava se arriscar

por causa de um radinho velho - embora saibamos

que os animais se apegam a essas pequenas coisas

cotidianas.

Gente, é triste ver o bar mergulhado

numa melancolia barulhenta.

Decidimos então fazer uma vaquinha

para que outro rádio desembarque do Paraguai.

Todos estão convidados a participar.

Somos uns bêbados sensíveis.

E tem mais, um bar sem radinho trazendo

o resultado do Jogo do Bicho,

tocando a Voz do Brasil  

e depois as canções antigas

não é um bar de confiança.

 

(B. B. Palermo)


quinta-feira, 21 de julho de 2022

O gato Américo


 

Perguntei pro meu amigo,

o tutor do gato Américo,

se o bichano era eu.

Fiquei confuso

e também feliz da vida

ao perceber que o gato e eu

temos a mesma cara

e o mesmo nome.

Se um dia rolar encrenca

eu mudo de nome

e geografia.

Serei o pai do Palermo

ou seu irmão gêmeo

morando na

Sicília!


terça-feira, 19 de julho de 2022

Anotações em guardanapos assistindo futebol na TV do bar

 

Ao empinar o copo de cerveja,

o Betão empina junto o dedo mindinho.

Não sabemos se é uma questão de etiqueta, de coordenação

ou se ele está se exibindo pras gurias.

Toda vez que o Cesinha corre pra calçada fumar,

o time faz um gol.

No intervalo, na calçada diante do bar,

se dizemos uma frase de efeito                      

ele canta desafinado uma canção.

A estatística não nos engana:

90% das vezes que o Elson vai pro banheiro mijar,

o time recua as linhas e leva um sufoco do adversário.

O Telmo é multitarefas.

Consegue olhar o jogo na TV,

escutar o jogo de outro time no celular

e ainda servir cerveja pra um bando de malucos barulhentos.

Toda vez que passa um jogo do Grêmio,

o Pedro Byke, numa tranquilidade impaciente,

pergunta se vai passar o jogo do Inter.

Se tem uma coisa que ferve sua adrenalina,

mais do que a performance do Inter

ou uma jogada de craque nos jogos na Afucotri,

é a véspera do resultado do Jogo do Bicho.

Quando o Grêmio está com deficiente poderio ofensivo,

o seu Ivo reclama indignado, do técnico:

"Por que não bota os lebreiros?!"

Como a maioria de nós que está no bar tem muita rodagem,

quando os caras vão a toda hora no banheiro mijar

nos perguntamos se eles têm problema na próstata

ou se é a ceva que é diurética.

O Pedro Borges não debate geometria,

filosofia,

astronomia

ou até metafísica

com tanta desenvoltura no departamento da universidade onde trabalha

como acontece no bar.

E os debates esquentam nos momentos

em que o jogo está mais tenso.

Perguntaram ao João Grandão se o Carleone  

(que tirava um cochilo debruçado na mesa dum cantinho do bar)

tem problemas com álcool, e ele respondeu:

"Claro que não! Só quando falta!".

 

(B. B. Palermo)


domingo, 17 de julho de 2022

É muita emoção, cara!

 Véio, tu tem que assistir

os jogos do Grêmio

no bar do Telmo.

Me aparece cada figuraça

que tu nem imagina.

Meu, tu precisa entrar no clima,

quer dizer, beber uns litrão,

porque estando sóbrio

tu não te diverte.

Lá aparece gremista pra tudo quanto é gosto:

tem os ressentidos,

os que fazem uma misturança e com(fusão)

entre futebol e política,

tem os fãs do técnico atual,

tem os desconfiados

e tem as viúvas do Renato...

e por aí vai...

É muita emoção, cara!

 

(B. B. Palermo)


sábado, 2 de julho de 2022

Uma noite qualquer

 

Você debulha ladainhas

de amenidades

e até me encanto mas

canso

e respiro

compassado

como um craque em meditação

transcendental

e então mais calmo

devolvo amenidades

monossilábicas

e depois de tantas insignificâncias

descobrimos os abraços

e as mãos se entrelaçam

e as turbinas enlouquecem

e o tesão deixa um rastro de quero mais

e isso é tudo

tudo tão banal.

 

(B. B Palermo)


Sujeito comum

 

Você não admite

ser catalogado

como sujeito comum.

Você pretende ser lembrado

como O Cara!,

alguém que por aqui passou

e espalhou diversas sementinhas

que vingaram.

Claro, há uns tropeços previsíveis,

aquela desconfiança de que talvez

essa vida não tenha sentido

algum.

Determinado, você se esforça em acreditar

numa farta colheita,

A RECOMPENSA no paraíso.

E os outros?

Ah, os outros... Os outros que se danem!

Você não embarca nessa

de que estamos todos

dentro de um saco de gatos

levando pancadas

diárias.

Dizem do teu livre arbítrio,

dizem da evolução necessária do teu ser,

mas receio que essa é uma bela ilusão,

uma ideia prostituída e sedutora

que inevitavelmente

nos seduz.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 1 de julho de 2022

deus não liga pra isso


a ninfa atravessa a rua

sabendo o poder

que tem

leveza

beleza

juventude

energia transbordando em cada

poro

enquanto isso

as coroas

sentadas no bar

manuseiam celulares

como se fossem chocas

bicando grãos de milho

espalhados pelo chão

 

deus está vendo tudo

deus se diverte pra caralho

deus não liga pra isso

não

 

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...