sábado, 11 de março de 2017

Somos amadores e carentes... de poesia


Meu poema não reivindica amores frustrados. Não humaniza estrelas e endeusa a lua cheia. O poema se engraçou com o novo bar repleto de chinelões mal-encarados, putas e carinhas drogados que se apavoram com o passado e se embebedam para suportar o amanhã.
O amor magoado proíbe que o poema sangre que a metáfora lateje e a febre goze. É uma temporada de tempo abafado, raiva a zero grau.
Mágoas de amor se engraçam no escândalo e submissão, no homicídio e suicídio raivosos. Só depois se tornam poemas.
Fazer poesia para se purificar de amores mal-amados é roubar o emprego do analista.
Mas Cadelão - diz uma Ninfa enluarada e esperta - o mundo está carente de poetas. Não critiques os enamorados, os que despertaram e vivem de paixões, e também os que gangrenam suas dores insuportáveis, não deboches por se dedicarem à poesia. Afinal, são tão poucos os sensíveis neste mundo frio e cruel.
Sim, garota esperta, você tem razão. Mario Quintana também o disse:
"Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos do que fazer nenhum. O exercício da arte poética representaria, no caso, como que um esforço de auto-superação. É fato consabido que esse refinamento de estilo acaba trazendo necessariamente o refinamento da alma. Sim, todos devem fazer versos. Contanto que não venham mostrar-me" (Caderno H).


(Diário de B. B. Palermo)

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