domingo, 2 de junho de 2024

Adeus papai

 


 

Garota, nossos destinos têm pernas bambas

e percorrem umas trilhas

nada paralelas.

Veja bem, você não leu Schopenhauer

nem Hannah Arendt, e você fala do Nietzsche

de um jeito até engraçado,

mas pede pra que repita N vezes

histórias das “Mil e uma noites”.

Você diz que os comunistas são estranhos,

mas não leu uma página sequer de Marx e Engels.

Não cheguei lá, no máximo sou masturbador

compulsivo e anarquista,

mas eu tenho bom coração - podes crer -,

penso em salvar muitos garotos do crack

e princesinhas da gravidez precoce,

e consigo comprar, no mercado paralelo,

alguns tubos de oxigênio.

 

Garota, liga não.

Sou uma figura que às vezes se surpreende

com suas milongas pirotécnicas ou –

sendo mais direto – seus fiascos.

Hoje tentei convencer um garoto, torturado pelo pó,

a matar seu pai, inspirado no Complexo de Édipo.

Logo me dei conta de que poderia ter acionado

uma bomba-relógio.

Então, disse-lhe que Édipo é um mito antigo, 

e foi usado pelo sacana do Freud para explicar 

os conflitos entre pai e filho, na infância.

Não sei não. Talvez, dia desses,

seu pai já era.

 

(B. B. Palermo)


Se você quiser, eu viro monge

 


 

Pra me conquistar, baby,

você devia me devorar

com outra afinação.

Teus gritos numas notas

previsíveis

ainda vão me hospedar

num mosteiro.

Leia poemas da Adélia,

contos da Clarice

e esfregue na minha cara

canções do Chico e do Vinícius

e diga pra todo mundo

que sou poetinha 

decadente,

um pecador 

e punheteiro.

Tu só fala de gatos

e cachorros

e tios e avós

e bisavós e tataravós

e suas epopeias de imigrantes,

e eu tenho certeza que eles 

não conseguem

ser ao menos

fantasmas 

disfarçados

de faróis

a me guiar.

 

(B. B. Palermo)

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