terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Poetinhas, contenham-se!

 

Não caminhava sozinho, estava rodeado

de uma legião de capetas, rindo, zombando.

Vestiam branco e jogavam pro alto seus cantos

vindos do outro lado da noite

do mundo,

no ritmo encanzinado do batuque.

Irmãozinhos, quais seus planos para mim?

Ou tudo não passava de um sonho:

Vocês rezam para que eu acorde?

O mar está de ressaca e eu caminho

pra um lugar qualquer e nunca encontro

o entardecer,

e as peregrinações se repetem milhões de vezes

e o retorno é um eterno ir e voltar

e não me metamorfoseio  – estou enfeitiçado

pelas velhas fábulas.

Palermo, seu bosta! Que ideia é essa

de botar poesia pra cima de telhados,

decks e containers e dos magníficos gramados deste lugar,

se os sujeitos gabaritados do Texas

erguem sem parar

casas e prédios,

em sua cabeça fermentam negócios promissores

e o verão está chegando??

Segundo as projeções da especulação imobiliária,

vai rolar muita grana por aqui.

Então, poetinhas, contenham-se,

juízo no copo e nesses ideais dominados

pelo contentamento dos instintos!

 

Não há outra saída... senão me recolher.

Em casa, o computador me obedece

em sua lerdeza habitual,

parece comigo, cheio de dúvidas sobre

o que fazer no futuro.

É isso aí: fomos contagiados pela insustentável

preguiça deste lugar!

 

(B. B. Palermo)


Poetinhas, contenham-se!

  Não caminhava sozinho, estava rodeado de uma legião de capetas, rindo, zombando. Vestiam branco e jogavam pro alto seus cantos vindo...