quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Diário de um insensível

 



 

Querido diário,

as máquinas da Corsan estão a mil no meu bairro.

Antes das 8 da manhã elas dobram as esquinas próximas

e aceleram os latidos raivosos da cachorrada,

e eu não consigo dormir cedo, os botecos

não fecham antes das 2.

Sabe, ontem foi o velório e o enterro do Golias.

É um cachorrinho de um amigo, e como o pátio daqui é enorme,

decidimos que ele faria companhia ao meu gato, o Neno,

que foi envenenado pouco antes da pandemia.

Meu amigo estacionou o carro e desceu com uma caixa

que simbolizava o caixão, e junto com ele veio sua filha e uma amiga.

Cavamos o buraco e, na despedida antes de enterrar o bichinho,

vi as lágrimas no rosto da garota,

foi então que percebi que não estava preparado emocionalmente

pra cerimônia, pois quando chegaram aqui em casa

devo ter dito alguma coisa fora de propósito...

Tu sabe, é difícil sentir as dores dos outros,

muitas vezes decorrem séculos pra desenvolvermos um mínimo de sensibilidade.

Cara, num grupo de Whats de meus conterrâneos

uma senhora Deus Pátria Família compartilhou um áudio

que circula desde 2018, comprovadamente fake.

Então fui no Google e copiei o link que atestava ser notícia falsa.

Enviei nesse grupo e comentei que nos poucos dias antes das eleições

circularão nas redes muitos boatos falsos, por isso é aconselhável não ser bocó

a ponto de achar verdadeiras tamanhas sandices.

Moral: fui expatriado do grupo, e isso trouxe algum sentido pra minha vida.

Mas o fato que mais me alegra é acompanhar, na horta, um tomateiro.

Um dos tomates deve pesar quase meio quilo.

Observo de perto seu amadurecimento.

Já passou dos tons esverdeados pra amarelados.

Creio que até domingo vai estar beeem vermelho!

                                     

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...