Vou sair pelo mundo.
Doei os móveis de casa, roupas,
calçados e carro,
vou descer noutro planeta
onde tudo é original.
Vou conhecer pessoas com classe,
mulheres elegantes e espertas e curiosas,
sussurrando sensualidade e apontando
novos caminhos.
Vou sair pelo mundo e nada de olhar no
retrovisor.
Não vou mais contrariar a mim mesmo.
Em Delírius não haverá gritões de bar
cuspindo verdades na minha cara,
bostas carentes de malícia e
melancolia
e esperança no olhar.
Assim que desembarcar, as mãos vão dedilhar
pernas e coxas e bundas e joelhos de
lindas seja-lá-o-que-for
– ai, ai, ai... vai ser tudo de bom!
Estarei no meu ritmo, um
ex-desafinado mandando ver no rock,
blues e jazz e também MPB e música
regional.
Meus dedos seguirão caravanas através
de braços e pernas
e demais planícies e penhascos das ninfetas
à espera de um sim, mãos subindo e descendo,
meu garoto despertando, e então me
transformo
no gênio da música, sou agora o Hermeto
Pascoal!
Nesse planeta vou rever os insights e
epifanias
que se mandaram e nunca mais voltaram.
Encontrarei todos os amores que tive
(ou não tive?),
e será o máximo lembrarmos das
histórias bonitas
e ridículas e trágicas que rolaram,
como por exemplo uma namorada que –
depois de conversar
com mamãe por alguns minutos – me
falou:
– Cadelão, tua mãe é louca!
E eu:
– Te acostuma, meu bem. A vida toda
foi assim!
PS.:
A história não acaba por aqui.
O poeta Zé me gritou, do umbral de
uma galáxia
pra onde se mudou:
– Cadelão, não seja bobo...
O planeta dos teus sonhos é o A.
Texas.
Fica esperto e curta ao máximo
este lugar!
(B. B. Palermo)