sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Vou-me embora pra Delírius

 


Vou sair pelo mundo.

Doei os móveis de casa, roupas, calçados e carro,

vou descer noutro planeta

onde tudo é original.

Vou conhecer pessoas com classe,

mulheres elegantes e espertas e curiosas,

sussurrando sensualidade e apontando novos caminhos.

Vou sair pelo mundo e nada de olhar no retrovisor.

Não vou mais contrariar a mim mesmo.

Em Delírius não haverá gritões de bar

cuspindo verdades na minha cara,

bostas carentes de malícia e melancolia

e esperança no olhar.

Assim que desembarcar, as mãos vão dedilhar

pernas e coxas e bundas e joelhos de lindas seja-lá-o-que-for

– ai, ai, ai... vai ser tudo de bom!

Estarei no meu ritmo, um ex-desafinado mandando ver no rock,

blues e jazz e também MPB e música regional.

Meus dedos seguirão caravanas através de braços e pernas

 e demais planícies e penhascos das ninfetas

à espera de um sim, mãos subindo  e descendo,

meu garoto despertando, e então me transformo

no gênio da música, sou agora o Hermeto Pascoal!

Nesse planeta vou rever os insights e epifanias

que se mandaram e nunca mais voltaram.

Encontrarei todos os amores que tive (ou não tive?),

e será o máximo lembrarmos das histórias bonitas

e ridículas e trágicas que rolaram,

como por exemplo uma namorada que – depois de conversar

com mamãe por alguns minutos – me falou:

– Cadelão, tua mãe é louca!

E eu:

– Te acostuma, meu bem. A vida toda

foi assim!

 

PS.:

A história não acaba por aqui.

O poeta Zé me gritou, do umbral de uma galáxia

pra onde se mudou:

– Cadelão, não seja bobo...

O planeta dos teus sonhos é o A. Texas.

Fica esperto e curta ao máximo

este lugar!

 

(B. B. Palermo)


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