quinta-feira, 1 de março de 2012

Mãe em sonho - Paulo Mendes Campos

Diz um provérbio judaico que Deus, não podendo estar em todos os lugares, fez as mães. Como as mães são terríveis, como urdem dia e noite a trama do amor e da vigilância, como se inclinam, incessantes, ilimitadas, sobre os filhos, almas sempre verdes, sempre ameaçadas. Um homem põe barba e quer pensar com o  seu nariz; uma menina põe busto e quer pensar com o seu coração. De que ardis se socorrem as mães para endireitar corações e narizes sem machucá-los.
Sonhei com ela. Almoçávamos em sua casa, e eu tinha acabado de comer uma salada imensa, muito temperada, quando minha mãe me falou com uma voz superlativamente doce: Meu filho, você anda comendo muito, cuidado com a arteriosclerose.
Acordei em pânico e cheio de lúcida gratidão. Aparecer em sonho para aconselhar-nos é uma das espertezas das mães. Mas a sutileza de minha mãe foi ainda mais fina. Não ando comendo muito e nenhum sinal aparente me faz candidato à arteriosclerose. Minha mãe queria me dizer outra coisa. Usou do estratagema de que eu estava comendo muito para não magoar o filho. Na realidade, confesso, andava eu era exagerando na bebida, festas inelutáveis, exposições, lançamentos, um amigo que chegou, um amigo que se foi, coisas. Sim, tinha exagerado nesses últimos tempos. E o que minha mãe pretendia dizer é claro como água de filtro: Meu filho, você anda bebendo muito, cuidado com a cirrose.
Mas foi do coração que eu morri.

Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...