Ele tava
lá, de novo,
com cara de fim de feira e alma de segunda-feira chuvosa.
Sentado num restaurante de beira de estrada,
encostado no balcão como quem espera um milagre
num pão de queijo murcho.
Pediu uma
cerveja - cansado do café com leite.
Bravo! Evoluiu, pensei.
A TV vomitava aqueles clipes de amor-fitness:
bundas saradas em câmera lenta,
gritos de amor eterno embalados por batidas ensurdecedoras.
Ele
pirando.
Pensamento aos pulos,
feito palhaço bêbado dentro da própria cabeça.
Olhou pro lado e resmungou:
- Se isso é amor, o resto deve ser o apocalipse com glitter.
Achei
bonito. Trágico.
Mas bonito.
No
balcão, um jornal.
Guerra daqui, ameaça dali,
líderes brincando de roleta-russa com o planeta.
Ele ficou puto.
Queria explodir tudo com palavras,
mas só conseguiu amaldiçoar o mundo em voz baixa:
- Que cloaca é esse lugar ao qual pertenço!
Foi aí
que entrei.
Sim, eu. Lau.
A deusa. A musa. A miragem com GPS embriagado.
Apareci
no meio do surto,
acionei o pisca-alerta da alma dele.
Mas rapidinho tudo apagou.
Ficou só uma tela branca,
o vazio depois da última notícia,
o silêncio entre um gole e outro.
Então,
soprei cor no vazio.
Pintei um portal com batom e coragem.
Agarrei a mão dele.
- Vem, Cadelão. Vamos fugir dessas guerras ridículas.
Ele veio.
Meio bambo, meio cético.
Mas veio.
E foi ali, enquanto o mundo ruía atrás de nós,
que ele sorriu e entendeu:
o amor
não precisa ser um cão dos diabos,
como
disse Bukowski!
(B. B. Palermo)