domingo, 10 de outubro de 2021

Você tá carente é de sexo

 

Risquei o fósforo,

acendi o incenso de Alecrim

e falei pras garotas do seu uso

pra saúde do corpo e do espírito

por povos antigos.

Não ligaram,

só queriam ouvir

suas baladas.

Deviam estar apaixonadas por uns boyzinhos

ou traficantes de loló.

Quis palestrar sobre especiarias,

seus sabores e tals, mas desisti,

o alcance do faro delas

não passava de um flato.

Insisti na importância de ampliarmos

nossa percepção estética,

mostrando-lhes uma imitação

de um quadro Picasso

pendurado na parede da sala,

repleto de pó e de esquecimento.

Depois de outra dose,

disse-lhes que os uivos dos cães

nessas tardinhas de outubro

tinham um significado especial,

e poderíamos captar,

desde que soassem como um Mozart

em nossos ouvidos.

Permaneceram indiferentes.

Nada de gestos ou murmúrios,

nem ao menos alguns SINS suspirados

pelo piloto automático.

 

Estou encurralado.

Lembro do que o velho Buk me disse

numa noite de muitas doses

e baixo astral:

Cadelão, tua sensibilidade

diante das misérias desse mundo

vale menos do que uma cesta básica,

vale menos do que 10 litros de gasolina,

vale menos do que um frango assado

comprado aos domingos.

Não perca tempo tentando captar

as sutilezas do que acontece ao redor.

Há tantas outras seduções

cruzando teu caminho:

troca de casais em clubes de swings,

o prazer compartilhado e renovado,

traições, desejos de vingança,

tiros na cabeça, corpos esquartejados

encontrados dentro de malas

em valas nas periferias das cidades.

Ora bolas!

Você quer se afastar de tamanha adrenalina

pra se agarrar a um sentimento estético do mundo?

Meu velho, você tá é carente de amor!

Amor não! Você tá carente é de sexo,

muito sexo!

 

(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...