quarta-feira, 20 de março de 2024

O crepúsculo de Van Gogh



As nuvens eram criaturas selvagens

e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos,

cães, jacarés e lagartos,

perfilados no horizonte

próximo.

piscaram-me o olho

exibindo umas gravatas

que pareciam hieróglifos

enfeitados com figuras

geométricas.

Intuí que a paisagem

aguardava tintas, pincéis

e cavaletes

do Van Gogh,

mas o gênio se entorpecia

de Absinto na taberna,

e nuvens escuras vertiam de seus olhos,

chorando

o entardecer.

 

Quando implorei

‒ DEUS, FAÇA ALGO! ‒ ,

espremendo meus olhos contra o infinito,

ele advertiu:

‒ Menino, NÃO SE PODE fazer nada, esquece!

É só mais um crepúsculo,

a ordem e o caos amando,

a luz e as trevas duelando!

 

(B. B. Palermo)


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  O chão, de repente, é um cemitério de fios. Meu rabo de cavalo, breve como promessa de verão, caiu inteiro no colo do João, barbeiro rindo...