terça-feira, 15 de outubro de 2019

Gente, esse cara é muito louco!


Trouxemos dois garotos até minha casa, depois de jogarmos sinuca num bar. Eles carregavam razoável estoque de erva. Consegui um papel dos bons, de caixa de tênis, pra um deles fechar alguns. O objetivo da aproximação e da amizade, desde o bar, era pra que nos apresentassem, num futuro próximo, algumas amiguinhas. Ainda mais depois que eles disseram que costumavam fazer suruba com elas. Eram bons no baseado. E isso dava um apetite do caralho. No caminho pra minha casa o Dr. Biza comprou, junto com a dúzia de latões de cerveja, dois quilos de salame. Foi devorado em questão de minutos. Os garotos falavam de umas surubinhas que faziam com suas garotas e o Dr. Biza me fitava, como a dizer, Viu só, Cadelão? Logo eles conseguem umas ninfetas pra gente! Cada um deles enfatizou que sua mãe é louca, e por isso tiveram depressão e por isso tantos remédios e por isso a necessidade das drogas. Cada um de nós teve mãe louca e eu falei da minha que era louca desde que me conheço por gente, e então inventei histórias das loucuras que mamãe fazia e disse pra eles Vocês não fiquem assim deprimidos, isso tudo é passado. Viram só como nós somos os caras? Apesar de crescermos com nossas mães loucas, aqui estamos, com um emprego e fazendo curso superior. Eu dizia isso e pensava Grande bosta, e aí então eles botaram pra tocar Rap e eu pensei Não posso fazer nada, o que me resta é encher a cara e dizer Sim sim. Eles só ouviam esse tipo de música, e era esse cara, e era aquele outro, letras com temáticas sociais até empanturrar. Eu me expiava em silêncio e me dizia Sim, sou um velho sujo e sublime e vazio de tudo. Disse pra eles Interessante o som que vocês curtem, eu pretendo criar um batalhão de fuzilamento pra botar no paredão esses imbecis que gostam de sertanejo universitário. Os garotos me fitaram com aqueles olhões vermelhos apavorados e pensei ter ouvido Tu é dos nossos, pode nos chamar, nos alistaremos no teu exército, o mundo ainda tem salvação. O baseado era dos bons. Aí eles falaram de suas experiências com LSD, e como essa droga agia, e como se sentiam depois da viagem e eu disse Li um bocado sobre, mas nunca usei. Vocês leram "As portas da percepção", do Aldous Huxley? Eles não conheciam, eu disse a eles Nunca usei LSD, estou satisfeito com os vôos que a marijuana me proporciona. Então os garotos atacaram a fruteira. Em minuto os pêssegos e maçãs e bananas foram devorados. Cinco da manhã, Dr. Biza e os garotos se foram e me deixaram com algumas cervejas e um baseado prontinho. Dei umas tragadas e fui pro pátio olhar a lua. Estava um terço de minguante e estava linda e disponível só para mim. Disse pra ela Ó, querida, bem que tu podia me ofertar aquela roseira que tu tem no meio das pernas, quentinha, perfumada... Por favor, me chama Vem vem me come sou todinha tua nessa madrugada inesquecível! A lua me fitava espantada naquele seu brilho afetuoso e murmurava pra suas amigas estrelas Gente, esse cara é muito louco! Voltei pra dentro de casa, Cadê as pernas de salame? Cadê as frutas? Invadi a geladeira, num pote havia bife e arroz meio congelados, devorei aquilo tudo com farofa e fui dormir.

(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...