Desenvoltura
de bailarina, cabelos curtos pintados num tom esverdeado, cor semelhante à dos
olhos.
Hellen
frequenta aulas de dança desde menina, estuda fotografia e pensa cursar
medicina.
Mas
Hellen não deve ter pressa. Ela tem dezessete anos.
Hellen
é minha amiga e fica à vontade para me dizer como é o seu jeito de ser. Com
frequência ela abandona suas escolhas e parte pra algo novo.
Hellen
é minha amiga, mas ficou ruborizada e eu fiquei ruborizado, pelo menos no
início de nosso papo. Mas isso sempre acontece nos encontros aleatórios, numa
parada de ônibus.
Prefiro
ônibus ao carro, me enxergo nos diversos olhares e, se não fosse na parada de
ônibus no centro da cidade, dificilmente me alegraria com aquele olhar da cor
do mar.
Estudar
em boas escolas, ser bem amparada econômica e afetivamente pelos pais, fazem
com que Hellen tenha um futuro promissor.
E
eu não posso reclamar, tendo essas fontes cristalinas que me inspiram.
Hellen
trouxe tantas novidades, e logo nos despedimos, acho que foi por isso que tive dificuldade
para acompanhar seu raciocínio, talvez ela falasse um pouco rápido demais, ou
porque navegamos em diferentes gerações, Hellen no limite da adolescência e a
meio passo da vida adulta, Cadelão pedalando na subida da meia idade.
Hoje
não tive um choque de realidade, mas sim de juventude.
Hellen
não precisa se estressar com doces e frituras, não precisa se resignar com meia
dúzia de folhas de alface durante o almoço, nem suportar adoçantes no café da
manhã.
Hellen,
o mundo se descortina diante dos teus olhos verdes - fiquei pensando depois,
mas não tive tempo nem coragem de dizer-Lhe.
Ser
amigo de Hellen desde sua infância, ser amigo dos seus pais, ser um poeta
fracassado, não impedem que eu tenha medo de tropeçar e despencar em direção ao
abismo. Mas com a imagem de Hellen assim tão viva, saber que Ela existe, tornam
o abismo uma tentação. Sim, acreditem, ele mora a meio passo do paraíso.
(B.
B. Palermo)