domingo, 11 de maio de 2025

Um pouco Esquisito

 


Esquisito sai do meio das dunas e vem pela rua e me avista.

Parece afoito e carrega alguma coisa numa sacola.

Lembro duma vez em que me narrou de seu contato com alienígenas na praia do A. Texas.

– Cadelão! – disse-me, ofegante, os olhos arregalados como se tivesse visto o próprio fim do mundo – eles voltaram...

A sacola mais parecia um saco velho encontrado no mar; notei alguma coisa por entre as frestas do zíper.

Já vi coisas estranhas em minha passagem por esse planeta, mas nada parecido com o que ele me mostrou.

– Do que você tá falando, Esquisito? Quem voltou?

Ele olhou por sobre o ombro, como se tivesse certeza

de que estava sendo seguido, e se aproximou tanto que pude sentir o cheiro de maresia

misturado ao de cigarro e álcool e baseado impregnando suas roupas velhas.

Abriu a sacola com cuidado, revelando um objeto que parecia uma concha enorme com uns desenhos indecifráveis.

– Foi o que eles me deixaram, da última vez.

Disseram que era uma chave... mas agora, agora, eles ordenaram

que eu a leve até o Farol – disse-me com a voz trêmula, um quase sussurro. Lá tem um portal. E hoje... hoje é a única noite em que ele se abre!

Engoli em seco. Pensei, que droga esse doido anda usando?!

Já ouvira rumores sobre o Farol – diga-se, o Farol da Solidão, um lugar meio isolado, mas com muita histórias de naufrágios de grandes navios, isso há quase 100 anos.

Segundo os pescadores mais velhos, é um lugar misterioso e, para muitos, até amaldiçoado.

Quero um dia conhecer o Farol da Solidão, mas não ao lado do Esquisito e com uma "chave alienígena nas mãos."

Caramba! E agora?

– Você vai mesmo levar isso lá?

Ele apenas assentiu. Depois, me encarou com uma expressão entre medo e esperança.

– Cadelão... preciso que venha comigo. Eles disseram que só posso entrar se eu não estiver sozinho...

 

Minha última conversa com o maluco girou em torna de sua paranoia a respeito dos cupins que tomaram conta do Litoral Norte.

Onde estavam as autoridades? Hotéis, pousadas, condomínios, casas, todos, todos eram corroídos, humanos reféns dos malditos insetos!

Ninguém faz nada!

Postava nos grupos de Whatts fotos e gravava áudios, desejando desentocar os responsáveis pelo fenômeno.

Diante do silêncio geral, ele desabafava:

– Tá todo mundo de sacanagem!

Quando lá chegamos, notei que o Farol estava vazio, abandonado, como o passado do Esquisito e talvez o meu.

Encostou a chave na base da torre e o vento parou.

Um brilho azul tomou conta da noite. E então, por uma fração de segundo, o impossível pareceu real.

Mas só por uma fração.

O farol voltou ao normal, o vento voltou, a vida voltou... e o Esquisito chorou baixinho.

– Eles me enganaram... ou talvez... me esqueceram.

No retorno, ofereci uns goles de pinga e um cigarro. Aceitou com um sorriso triste.

Desde aquele dia, nunca mais falou dos alienígenas.

Sua vida, agora, gira em torno dos cupins.

Confesso que, às vezes, quando venho meio faceiro do bar à noite, caminhando pela praia, lembro do Farol.

Milagre? Então, um feixe de luz pisca lá no alto – e penso que talvez, só talvez, o Esquisito estivesse com razão o tempo todo.

 

(B. B. Palermo)


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O mundo é um grande bufê de sushi, todos se oferecendo em fatias finas com molho de soja, pose de coach e uma bio dizendo "alma livre...