quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Pílulas diárias de fofoca

 

– Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém!

Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”.

Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ninguém repara.

Lá na Serra, não. Se tu se vestir de um jeito simples,

nem te olham!

 

Agora o papo é sobre os bichinhos, os cachorros,

quase sempre vira-latas, “graças a Deus!”.

– É horrível, naqueles dias chuvosos, é terrível.

Eles só fazem xixi na rua. Se não andarem por aí,

gemem, uivam, choram, pedindo pra sair.

Gatos? Não, não! Eu não quero mais saber!

Tinha um macho e uma fêmea.

Tu acredita? Ela só queria fugir.

Até que me abandonou, aquela mal-agradecida!

Nunca mais quero ter gatos!

 

Sentado a seu lado, a cabeça lateja,

deve ser por causa do timbre de sua voz

e também o seu desembestado matraquear.

Da janela do ônibus observo – acima de sua cabeça –  

o sol meio que evaporando por entre nuvens escuras.

Ônibus lotado... para e segue e segue e para, gemendo...

– A Defesa Civil disse que serão 250 milímetros de chuva

em 4 dias! Todo o cuidado será pouco!

Enchentes, estiagens, a água e a poeira por todo lugar.

Sua conversa me liga à tomada e desvenda a realidade:

a primavera com suas cores vibrantes

não está a fim de ceder espaço

para o verão.

Fico louco pra chegar em casa, calçar os tênis

e partir pra caminhada: até a praia e depois a praça

e o clube e alguns bares.

Sim, fiquei viciado e entorpecido

e seduzido pelos enredos desse povo.

Acho que não vivo mais sem as pílulas

diárias

de fofoca.

 

(B. B. Palermo)


Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...