Fazia um bom tempo que eu vinha
com o pé afundado no acelerador,
aí fiquei puto comigo mesmo
e decidi ouvir os conselhos do Cadelão.
"Zé, saia da sombra desse pé de cana,
foge da zona de conforto,
dance com teu Urso, pega o violão,
vá pescar e te inspire,
o mundo aguarda ansiosamente
o teu talento florescer ".
Bom mocinho, decidi pescar com o Marcão,
expert dos movimentos da areia,
dos peixes e dos ventos,
de política, história, música, poesia
ou seja lá o que for.
O molinete estava agarrado ao chão,
anzóis aguardavam ansiosamente
a mordida do peixe grande.
Marcão evaporou todo apressado,
foi atrás de vodca, matambre e costela
pra um assado.
Assumi o comando do molinete,
mas logo me distrai e fui bater papo
com um grupo de senhoras marisqueiras,
que sonhavam deliciosos pastéis
enquanto cavoucavam na areia.
A distração cobrou seu preço.
O molinete balançou e vergou e foi arrastado
feito flecha para o mar.
Seria o sonho se realizando?
Finalmente fisguei o peixe tão desejado.
Bem do jeito como acontece nos meus sonhos,
eu cheguei atrasado,
a mim só restou a base que sustenta molinete, linha e anzóis.
Gritei pra elas, com o troço na mão:
"Senhoras, vocês viram o que aconteceu?
Hoje fisguei o peixe sonhado,
mas não estava preparado!"
Não lembro se elas ficaram tristes
ou choraram de tanto rir.
Bobinhas, passam a vida curvadas
tirando da areia
toneladas de mariscos,
nunca viverão as aventuras
de um velho pescador
que duela com o mar.
(B. B. Palermo & Zé)