domingo, 24 de fevereiro de 2019

Baby, é hora de sacar essa obsessão

Uma obsessão enfeitiçou teus olhos:
atrair uma dezena de boys,
explorar o que dispões no momento,
realçar as curvas do corpo,
metida num biquini que mostra tons do bronzeado
derramados sobre tuas curvas.

Isso me faz lembrar daquela música que diz que
"a nossa vida corre contra o tempo (...).
Somos castelo de areia na beira do mar...".

Baby, deve haver outras saídas,
e logo chegam os quarenta,
os cinquenta, os sessenta anos,
e você vai precisar distrair teu corpo.
Faça como muitas e muitos por aí:
aprenda outra língua, leia mais livros,
faça uma pós-graduação.          

Você não está equivocada ao mergulhar nas câmeras fotográficas
que te refletem em direção aos olhos dos outros.
Nossa duração não é eterna,
somos herdeiros do clic, do flash,
de luzes foscamente brilhantes,
o que vale é o aqui e agora.

Ninguém quer saber se amanhã as comportas não suportem o fluxo da vida,
e se o lago de nossas tentativas e acertos e erros ameaça estourar,
e se estaremos uns mais vulneráveis do que os outros,
e se alguns terão mais luz do que os outros...
E é angustiante demais saber
que "somos castelos de areia na beira do mar"!



(B. B. Palermo)

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Vai por mim, meu brother



Nesses dias de esforços sobre-humanos para me manter sóbrio e recuar um pouco a barriga, a primeira música que me sobe à cabeça é de propaganda de cerveja.
Pior ainda é duelar com a vontade capeta que só vê copo cheio diante dos olhos à espera pra ser sugado, e a toda hora me perguntar quem sou eu e o que quero da vida.
Ainda mais dramático é ler poetas rebeldes de alguns séculos atrás e buscar traços que me identifiquem com eles, como se tivesse herdado ou reencarnado seus defeitos e vícios.
Agora, ao ouvir o blues que o Renato Fernandes canta bêbado nuns versos em nossa língua varonil, a palavrinha que lateja em minha mente é "dignidade, dignidade". Como se eu devesse me culpar por todas as merdas que os políticos planejam na calada da noite, e seu papo furado de que são necessárias reformas urgentes, como se o mundo fosse acabar se não aceitarmos isso.
Os que os apoiam são chamados de "gado".
Os que fazem a crítica são chamados de comunistas.
Rebanhos, todos, com ou sem conhecimento de causa, marchando em ordem unida para o abate.
Não suporto bater de frente com a opinião desse povo. Sei que serei odiado, pois aqui estou dando meus palpites.
Nossa opinião tem o mesmo grau de veracidade dos seis números que jogamos na Mega sena. A probabilidade de acertar e de ser levado a sério é de uma em seis milhões. Então, não perca tempo opinado por aí. É muito mais saudável ir pescar ou fazer sexo ou, por que não?, se masturbar. Vai por mim, meu brother.

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Todos os homens são maricas quando estão com gripe - Antonio Lobo Antunes


Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija Chá de limão
Zaragatoas
Vinho com mel
Três aspirinas
Creme na pele
Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela
Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto
Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Tigres sem listas
Bodes de tranças
Choros de corujas
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é a chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo
Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira
Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada
Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sozinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer.

O dia da inauguração do mundo - Luiz Coronel


O mundo estava pronto
ao findar do sexto dia.
Água e terra, lado a lado
na mais perfeita harmonia.

Então uma pedra falou
com sua voz um tanto aguda:
“eu gostaria de andar”!
E Deus fez a tartaruga.

E depois uma montanha
com sua voz trovejante
pediu para ser bicho,
e Deus criou o elefante.

E a lua que se refletia
em águas claras, pacatas
disse que queria nadar
e se fez peixe de prata.

E quando a folhinha verde
expressou os sonhos seus
de saltitar entre os galhos
se tornou um louva-a-deus.

E as nuvens que cobriam
de branco o céu inteiro
resolveram se transformar
num rebanho de cordeiros.

E o sol, com pinta de rei,
quis também sua mutação:
por ter uma juba dourada
Deus fez do sol um leão.

E no seu galho uma flor
com vozinha de opereta
pediu que queria voar.
E Deus fez a borboleta.

E a estrela brilhante
vendo a onda se elevar
pediu para descer às águas
e hoje é “estrela-do-mar”.

E um anjo que estava perto
(até nem me lembro o nome),
gritou que queria ser Deus.
De castigo virou homem.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Amar ou odiar - João Villaret


Amar ou Odiar
Poema de Fausto Guedes Teixeira
dito por
João Villaret 

Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser.
A alma tem que estar sobressaltada
Para o nosso barro se sentir viver...

Não é uma cruz a que não for pesada,
Metade de um prazer não é um prazer;
E quem quiser a alma sossegada,
Fuja do mundo e deixe-se morrer!

Vive-se tanto mais quando se sente:
Todo o valor está no que sofremos.
Que nenhum homem seja indiferente!

Amemos muito como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos
Porque é no sentimento que ela está!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Brasileiro, homem do amanhã - Paulo Mendes Campos


 Há, em nosso povo, duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
           A primeira é, ainda, escassamente desconhecida, e nada compreendida, no exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que,direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
         Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (“Nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã”), não é, no Brasil, uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira. Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada). 
Michael Cheval.
        Adiamos em virtude de um verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão, ao surgir, na nossa frente, um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage, de pronto, com as palavras: logo à tarde, só à noite, amanhã, segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
         Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas, tantas vezes, se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista (o dentista nos adia),a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são, mais ou menos, pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral das reformas, uma instituição sacrossanta no Brasil.
         Quanto à morte, não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na “Canção do Exílio”, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que ele morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele poema famoso, cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã...”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
        Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe a gravata sempre mais colorida.
         O brasileiro adia; logo, existe.
         A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei, no fim do volume, algumas informações essenciais sobre nós e a nossa terra. Entre endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:
        DES MOTS : Hier = ontem;
        Aujourd’hui = hoje;
        Demain = amanhã.
        Le seul important est le dernier.
        A única palavra importante é última.

         Ora, esse francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Livros à disposição em geladeiras - Capão da Canoa


Quem caminha por Capão da Canoa e gosta de ler tem uma proposta inusitada: as geladeiras literárias. Ou seja, eletrodomésticos de cozinha antigos e inutilizados que guardam livros em seus interiores. São cinco geladeiras localizadas no balneário: uma na Casa de Cultura de Capão da Canoa, uma na Praça do Farol, outra no Shopping local, mais outra na Praça Flávio Boianovski e mais uma no Centro de Atenção Psicosocial.

Conforme a coordenadora da Casa do Artista Caponense, Eliana Motta, o projeto foi idealizado pelo escritor Sérgio Stangler e colocado em prática a partir de abril de 2018. “É um grande incentivo à leitura”, disse Eliana. Ela falou ainda que tem contado com o apoio dos veranistas, tanto para utilizar as geladeiras, quanto conservar as estruturas. Eliana recorda de um fato que considera curioso. “O primeiro a se interessar e abrir uma geladeira literária foi um morador de rua, que foi lá e pegou um livro de ensino e passou a tarde pesquisando”, vibrou.
A moradora de Capão da Canoa, Gina Furtado, comerciante, é uma das pessoas que aproveita os livros da geladeira. “Acho muito legal este serviço. A pessoa que não pode comprar, vem aqui e pega um livro. Já faz parte da cultura da cidade”, comemorou. “E costumo pegar livros, mas também já doei vários. Às vezes, o livro está lá em casa, largado. Aí eu trago e ponho na geladeira para que outra pessoa possa usufruir”, garantiu ela, que mora no Balneário há 10 anos.
A carioca Inês Guedes, que reside em Capão da Canoa há 11 anos, também é uma que usa muito os livros da geladeira. “Esta ideia é um espetáculo. Com os preços dos livros hoje em dia, nem todo mundo pode comprar. Aí vem aqui e pega um emprestado. Em outros casos pega um e deixa outro. Formidável”, elogiou.
Cândida Freitas e o ex-marido Sandro Freitas, ambos de Uruguaiana, aproveitaram a iniciativa. “Fomos passear e nos deparamos com estas geladeiras cheias de livros. Abri e já peguei um para ler”, contou Cândida. “Também curti a ideia e como pai de três adolescentes peguei um livro que fala sobre esta faixa etária”, revelou Freitas. “O que me deixou admirada foi a conservação das geladeiras. Estão bem cuidadas, pintadas e com uma grande variedade de livros”, finalizou Cândida.
FONTE: Jornal Correio do Povo, de 16/02/2019

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Sei o que fazer para melhorar o mundo



Meus velhos tênis judiados
pela chuva e poeira e barro
pareciam tristes.
Ou talvez desprezassem
esse miserável companheiro.
Esqueço que coloco palavras em sua boca.
Atribuo qualidades e defeitos.
Cidadão mediano, desenvolvo hipóteses, tiro conclusões,
berro em publico e pela internet soluções para melhorar o mundo.
Os tênis, a calça, o cinto, as meias rotas etcétera e tal
não têm nada com isso.
Eu sei o que fazer para melhorar o mundo:
arregaçar as mangas e partir pra luta.
Mas eu ainda não cansei
de jogar  a culpa nos outros.

(Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach



Segundo tempo

Sua gula estava insaciável e, junto com ele, flutuavam acima do peso.

Quilômetros de amor represado, rancor e ciúmes e outras coisinhas o afastavam dos outros.
Era um tanque inflamável que ameaçava explodir ou envelhecer em algum canto.
Seu desejo e querer precisavam de exercícios, os músculos, todos, inclusive os cardíacos, contraiam-se de medo.
Tantas vidas represadas.
Tantas mentes defasadas.
Até que um dia uma luz acendeu e ele vislumbrou:
beijos e abraços e carinho e esperança,
essas e outras tantas coisas haviam entrado de férias 
e não tinham voltado.

O jogo não acabara.
Podia se reorganizar para o segundo tempo.
Foi o que fez.
E, de cara, foi ao ataque, substituindo o medo e o rancor por alegria, esperança e bom humor.

(Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Nada de morrer


Desvendar a vida.
Partir pra luta.
Nada de morrer.
O que vale é ser feliz.
Jogar os medos no ventilador.
Ser criativo e esperançoso.
Ter um coração de malabarista.

(Teco, o poeta sonhador)

Primeiro amor




O amor só existia nos filmes de TV. Aí, houve a mágica: o primeiro amor. Depois, cada paixão foi um estouro da boiada.

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Obrigado, doutor - Fernando Sabino


Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as mãos à cabeça:

- Minha Santa Efigênia!

Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez sentir a causa de sua perturbação:

- É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.

Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:

- Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.

 Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A chamada dose cavalar.

- Não adiantou nada – queixa-se ele. – Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa dentro de minha barriga.

Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:

- Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.

No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem entende de mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado hoje está que nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a mão aqui”.

- É lápis mesmo, aí no seu bolso.

- Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.

Vive lendo bulas de remédio: “Este é dos bons” - e seus olhos se iluminam: “justamente o que eu preciso. Dá licença de tomar um, para experimentar? Quando visita alguém e lhe oferecem alguma coisa para tomar, aceita logo um comprimido. Passa todas as noites na farmácia: “alguma novidade da Squibb?”

Acabou num psicanalista: “Doutor, para ser sincero eu nem sei por onde começar – dizem que eu estou doido? O que eu estou é podre”. Desistiu logo: “Minha alma não tem segredos para ninguém arrancar. Estou com vontade é de arrancar todos os dentes”.

E cada vez mais forte, corado, gordo e saudável. “Saudável, eu?” - reage como a um insulto: “Minha Santa Efigênia! Passei a noite que só você vendo: foi aquele bife que comi ontem, não posso comer gordura nenhuma, tem de ser tudo na água e sal”. No restaurante, é o espantalho dos garçons: “Me traga um filé aberto e batido, bem passado na chapa em três gotas de azeite português, lave bem a faca que não posso nem sentir o cheiro do alho, e duas batatinhas cozidas até começaram a desmanchar, só com uma pitadinha de sal, modesta porém sincera”.

De vez em quando um amigo procura agradá-lo: “Você está pálido, o que é que há? “Ele sorri, satisfeito: “Menino, chega aqui que eu vou lhe contar, você é o único que me compreende”. E começa a enumerar suas mazelas – doenças de toda a espécie, da mais requintada patogenia, que conhece na ponta da língua. Da última vez enumerou cento e três. E por falar em língua, vive a mostrá-la como um troféu: “Olha como está grossa, saburrosa. Estou com uma caverna no pulmão, não tem dúvida: essa tosse, essa excitação toda, uma febre capaz de arrebentar o termômetro. Meu pulmão deve estar esburacado como um queijo suíço. Tuberculoso em último grau”. E cospe de lado: “Se um mosquito pousar neste cuspe, morre envenenado”.

Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” – e se abre numa gargalhada: “Vocês querem acabar de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta que de uns dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de Enfermagem Ana Néri.


In: O homem nu. Rio de Janeiro: Record, 1977.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...