sábado, 26 de abril de 2025

tarde demais

 

as placas berram no asfalto quente do A. Texas
“leve seu lixo para casa!”
“preserve a natureza!”
“atenção: morada do tuco-tuco!”
como se palavras pudessem conter a estupidez humana
como se alertas em madeira ou metal pudessem domar os cães famintos
ou deter os riquinhos em seus quadriciclos,
rasgando as dunas e praias como se fossem deles
como se tudo fosse deles
como se sempre fosse deles

o tuco-tuco não lê placas
ele cava, se esconde, sobrevive
até que um pneu o esmague
ou um cão o devore​

e eu?
sou só mais um roedor urbano
olhando pro horizonte turvo
preso entre prédios e ruas vazias e promessas vazias
esperando a ratoeira fechar​

as placas continuam lá
firmes, inúteis, ignoradas
como preces em um mundo sem deuses​

tarde demais para arrependimentos
tarde demais para esperança
tarde demais


(B. B. Palermo)


A velha cidade não sai de dentro de você

  O ar irresponsável juntou-se à fuligem e estão deixando o mundo em polvorosa. Moços, velhos e crianças se desmontam em tosse e espirros....