as placas
berram no asfalto quente do A. Texas
“leve seu lixo para casa!”
“preserve a natureza!”
“atenção: morada do tuco-tuco!”
como se palavras pudessem conter a estupidez humana
como se alertas em madeira ou metal pudessem domar os cães famintos
ou deter os riquinhos em seus quadriciclos,
rasgando as dunas e praias como se fossem deles
como se tudo fosse deles
como se sempre fosse deles
o
tuco-tuco não lê placas
ele cava, se esconde, sobrevive
até que um pneu o esmague
ou um cão o devore
e eu?
sou só mais um roedor urbano
olhando pro horizonte turvo
preso entre prédios e ruas vazias e promessas vazias
esperando a ratoeira fechar
as placas
continuam lá
firmes, inúteis, ignoradas
como preces em um mundo sem deuses
tarde
demais para arrependimentos
tarde demais para esperança
tarde demais
(B. B.
Palermo)