domingo, 25 de julho de 2021

Faixas de segurança

 

Atravessava a faixa de segurança

na avenida

e ela vinha toda séria

no seu carro esportivo.

Olhos nos olhos, tentei adivinhar

se ela afundaria o pé no acelerador

ou no freio.

Ela me encarou com um semblante

de quem sofre de azia

e má digestão.

Eu sei, meu bem, não sou remédio

para teus sentimentos gástricos.

Meu coração condicionou-se a pulsar

com altas doses de álcool,

e está soterrado em geleiras

surreais.

Todo dia procuro compreender

meus sentimentos,

os quais vêm ao mundo

com ânsia de vômito,

confundo real com imaginário

e me atraco com umas garotas

que posam nuas para fotos

compartilhadas no Whatts.

Tão próximas e tão distantes

da embriaguez imaginativa do Cadelão.

Elas passeiam tranquilas

pelas minhas faixas de segurança,

é um caminho seguro, garanto, embora invisível.

Peitos, bundas e vaginas

circulam pela Internet e me chamam,

como se fossem fogos em dia de quermesse,

eriçando os ideais perversos

da multidão.

 

Mas isso pouco importa.

Quero falar de meus planos,

quero ouvir amenidades e, por Deus!,

quero encontrar soluções para todas as crises

que o planeta atravessa,

inclusive a crise ambiental.

Gosto de enganar e ser enganado.

Falo falo de meus planos de futuro

e nem percebo que os ouvidos

que me cercam e bebem comigo

não estão nem aí.

Meu desejo de consumo, eu sei,

é evaporar

nessas nuvens

de neblina

da opinião.

 

(B. B. Palermo)

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