quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Observo do outro lado da rua



Tudo funciona.

Satélites orbitam continuamente e cumprem sua missão.

Aviões decolam e chegam aos seus destinos.

Planos de voo e olhares sem mistérios,

celulares conectados, bilhões de indivíduos

compartilhando informações a toda hora.

Tudo funciona por aqui.

Estamos adaptados.

Uma regra comum diz o horário pra acordar,

fazer a higiene e as refeições,

o lazer e a hora de dormir.

 

Precavido, do outro lado da rua,

mantenho uma distância segura.

Sou apenas mais um louco que prefere álcool aos coquetéis de laboratório,

que tentam amenizar a ansiedade, a deprê e a falta de sono.

Mantenho distância do instituído

que aperta os parafusos dos indivíduos,

tornando-os mais e mais ajustados.

A engrenagem funciona com trabalhadores produzindo o máximo,

dedicando muitas horas diárias ao trabalho,

e à noite que tenham pouca ou nenhuma energia

para pensar no sentido disso tudo.

Eis que caem do céu, como um presente dos deuses,

programas de TV, novelas e futebol,

para sonhar e levantar disposto amanhã,

manter-se hipnotizado e não decepcionar a grande família,

grande ídolo que segura as rédeas de nossa alma.

 

Observo tipos adaptáveis por aí,

olhos vazios, coração de mármore,

sentimentos vagos, presos a crenças de aço.

Continuo observando do outro lado da rua.

Mantenho distância segura pra não me contaminar.

Um louco, tanto que me emociono com a indiferença

dos manequins de plástico nas vitrines das lojas,

no centro comercial da city.

Sou a tal ponto ridículo, que chego a sonhar que sou

a recriação do Brás Cubas, do Machado de Assis,

talvez uma grande ideia,

uma rememoração,

um blefe da imaginação.

 

(B. B. Palermo) 


Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...