Tudo funciona.
Satélites orbitam continuamente e
cumprem sua missão.
Aviões decolam e chegam aos seus
destinos.
Planos de voo e olhares sem mistérios,
celulares conectados, bilhões de
indivíduos
compartilhando informações a toda hora.
Tudo funciona por aqui.
Estamos adaptados.
Uma regra comum diz o horário pra
acordar,
fazer a higiene e as refeições,
o lazer e a hora de dormir.
Precavido, do outro lado da rua,
mantenho uma distância segura.
Sou apenas mais um louco que prefere
álcool aos coquetéis de laboratório,
que tentam amenizar a ansiedade, a deprê
e a falta de sono.
Mantenho distância do instituído
que aperta os parafusos dos indivíduos,
tornando-os mais e mais ajustados.
A engrenagem funciona com trabalhadores
produzindo o máximo,
dedicando muitas horas diárias ao
trabalho,
e à noite que tenham pouca ou nenhuma
energia
para pensar no sentido disso tudo.
Eis que caem do céu, como um presente
dos deuses,
programas de TV, novelas e futebol,
para sonhar e levantar disposto amanhã,
manter-se hipnotizado e não decepcionar
a grande família,
grande ídolo que segura as rédeas de
nossa alma.
Observo tipos adaptáveis por aí,
olhos vazios, coração de mármore,
sentimentos vagos, presos a crenças de
aço.
Continuo observando do outro lado da
rua.
Mantenho distância segura pra não me
contaminar.
Um louco, tanto que me emociono com a
indiferença
dos manequins de plástico nas vitrines
das lojas,
no centro comercial da city.
Sou a tal ponto ridículo, que chego a
sonhar que sou
a recriação do Brás Cubas, do Machado
de Assis,
talvez uma grande ideia,
uma rememoração,
um blefe da imaginação.
(B. B. Palermo)
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