terça-feira, 11 de novembro de 2025

Ainda tem salvação


 

Uma luz colorida baixou.
pensei: é hoje!
Um sinal, talvez, de que pertenço
a um mundo melhor,
onde ninguém morre antes da hora,
as crianças brincam e riem
e os velhos dançam devagar
com a saúde pingando dos olhos.
Vim caminhando pela avenida,
vislumbrando esse mundo, vasto mundo,
e tive uma alegria danada.
Entrei na primeira academia,
pedi uma matrícula,
falei pra mim mesmo:
preciso malhar,
a salvação começa no bíceps.
Resistência muscular, sono regular,
água, só água -
chega de álcool, chega de caos.
Vai nascer um novo homem,
um homem limpo,
iluminado por dentro.
Mas aí a realidade levantou o vestido,
mostrou as coxas
e me deu um tapa de lucidez.
Uma velha deusa andarilha
riu tanto que se mijou,
gargalhando da minha cara limpa
e do meu projeto de pureza.
No semáforo, uma moleca vendendo bugiganga
me contou, sem contar:
o mundo ainda sangra.
Tem tragédia, tem guerra,
e as crianças morrem por motivos
bem filhos da p*.
Mais tarde, meu amigo chegou de carro,
parou na praça,
tirou a gaitinha do bolso
e começou a tocar “Knockin’ on Heaven’s Door”,
do Bob Dylan.
Eu respirei fundo,
encostei na mureta,
olhei o céu meio sujo de fumaça
e juro -
por um segundo, juro -
achei que esse mundo louco e complicado
ainda tem salvação.
(Pensamentos & poemas espirituosos)

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