Já fui o “docinho” de muitas beldades,
executivas, professoras, gerentes de lojas e bancos,
garotas de programa, diaristas.
Docinho pra cá e pra lá – se necessário,
24 h por dia.
Prestativo, atencioso, sempre à espera do milagre:
que alguma das deusas me acariciasse
e até sentasse no meu colo.
Vejam bem, que isso fique por conta
da imaginação de vocês.
O “colo” é apenas o eco de meu delírio,
meu salto mortal, o devaneio de que tanto me orgulho.
Confesso que era tímido, e hoje essa verdade
me persegue e dilacera.
Muitos anos depois, a imaginação desgovernou-se
e juntou-se à dona fantasia, e sua alma profética,
nuns beijos e abraços em todo e lugar nenhum.
Cena comum: cogumelos brotam por detrás
da porta do banheiro.
Cogumelos pacíficos?
Cogumelos bandidos, filhos da guerra atômica?
Pesadelos, feito bombas armadas pra detonarem
quando estiver no sono mais profundo?
Soldados corcundas me fuzilando
numa Vietnã qualquer?
Dentro do filme do Scorsese
reencontro um por um esses amores,
de quem fui taxi drive, na Capital.
As coisas ficaram estranhas quando vi os ovos explodirem
ao serem cozinhados e os feijões permaneciam duros,
mesmo depois de horas no fogo.
Calcinhas e sutiãs penduradas nos varais
de quintais das casas me chamavam e me conduziam
à doce e amarga verdade: as garotas que levei
com meu carro por tantos labirintos e ruas
estão de volta, e desfilam... com suas vozes inconfundíveis,
seus pets, seus livros, espelhos, batons e canções preferidas,
elas são a minha plateia – a plateia de um poeta só!
O poeta junta esse punhado de ninfas
e desenha em sua parede desbotada e solitária –
misturando todas as tintas possíveis e impossíveis –
a sua mulher ideal.
(B. B. Palermo)