segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Acho que enlouqueci



Foi então que me vi cuidando de cada folha,
como quem vigia um filho dormindo.
Espio o céu, imploro por chuva, negocio com pombos
para que não invadam meu chão.
Plantei alfaces, pimentas, melancias,
como se meu quintal fosse uma fazenda.
Reparo no vento, na luz, no silêncio.
Pesquiso curas milagrosas do abacaxi, a anatomia do morango.
Meu pé de limoeiro me testa: cresce ou me abandona?
Não sei quando isso começou.
Antes, só aparava o mato para acalmar os vizinhos.
Agora, sofro pelo bife como se fosse uma pobre vaca ou boi.
Talvez seja ressaca da pressa moderna,
da vida digital que tritura os sentidos.
A horta é meu fôlego, é meu éden.
Quero ver, ouvir, cheirar.
Quero renascer com as frutas, verduras e legumes.
Um amigo diz que vivo cultivando abobrinhas.
Seja metáfora, seja gozação, eu não brigo
e não ligo.
Quem nasceu na roça leva terra debaixo das unhas
até o fim.
Se enlouqueci, me avisem.
Estarei fuçando
no quintal.
(B. B. Palermo)

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