quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Os ratos

 

Pelo canto do olho, vi uns ratinhos-fantasma correndo pela sala.
Disse ao Beiço:
– Tô recebendo essas companhias no cafofo.
Um deles até entrou na lareira, escalando como se fosse chaminé de esperança.
Pensei em acender o fogo à noite.
Beiço se arrepiou:
– Tu é louco. Mudou até a lei do Darwin.
Pra ti, não sobrevive o mais forte, e sim o mais cruel.
Fomos pro boteco.
– Tu já queima dinheiro em bebidas e mulheres, e agora quer queimar um camundongo?
- É que sonhei que o rato raptava minha carteira
e roía o dinheiro que suei na semana.
Beiço gargalhou:
– Isso é plágio, Cadelão. Nos anos oitenta li Os Ratos, do Dyonélio.
O personagem Naziazeno sonhou igual, só que a miséria dele era de verdade...
não tinha grana nem pro leite da família.
Já tu… tu é um desocupado bem malandro,
assombrado não pela fome, mas pela farra.
Fiquei quieto, lembrando da cena.
Os ratinhos (fantasmas?) me rondavam de novo,
mas no meu delírio não devoravam leite nem salário.
Roíam apenas as dobras da minha falta de vergonha na cara.
No fim, talvez eu e Naziazeno sejamos irmãos de lutas e misérias.
ele, da fome.
Eu, da boemia.
(B. B. Palermo)

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