Um maluco foi empinar sua motocicleta importada de mil cilindradas na
avenida, a uns trinta metros do bar onde eu conversava com dois amigos. Perdeu
o controle, já era noite, a moto rodopiou e voou em frente, acompanhada de faíscas
por causa do atrito com o asfalto, e o sujeito rolou uma dúzia de metros e se
chocou num carro que vinha no sentido contrário. O voo da motocicleta seguiu na
contramão, chocando-se no pneu traseiro de um carro estacionado e foi pro outro
lado da rua, uns cinquenta metros adiante.
- Caralho, e se o foguete vem em nossa direção?
- Já era, baby.
Um sujeito que estava numa mesa ao lado correu pra organizar o trânsito.
Depois foi ajudar o cara da moto. Por incrível que pareça, o retardado estava
consciente e sem qualquer osso quebrado.
- O filho da puta nasceu de novo.
- Já pensou se a máquina alcança as crianças que circulavam de bicicleta
pela calçada?
Enchi o copo e observei a bolha se formar no bico da garrafa. Rechacei um
pensamento que ganhava forma, "que pena não estar morto nessa hora".
Agora que estou vivo, sinto o paladar a cada gole. Um dos meus amigos achou que
era momento de dizer "viva bem cada minuto, como se fosse a frase ideal
para iniciar um romance".
Com seus smartphones em punho, pessoas tiram fotos, gravam vídeos, antes
que a motocicleta seja recolhida e o maluco conduzido ao hospital e antes que
cheguem os caras da Brigada.
Como um balão que estoura sem ter alcançado o seu máximo, broxo ao ver
toda essa cambada manuseando seus aparelhos. Precisam se ocupar, e eu necessito
inventar algo para distraí-las desse hábito ridículo.
- Se a cabeça dos caras não está no aparelho, está no pau - disse outro
de meus amigos.
O cretino dedicou muito suor pra cavalgar numa máquina de dar inveja a
amigos e conhecidos. Mas pra se exibir na avenida não pode exagerar na bebida
nem no pó. De que serve tudo isso?
Penso que ele deveria ser minha plateia, e não o contrário. Mas não levo
jeito pra coisa. Não consigo escrever textinhos curtinhos e engraçadinhos pra
chamar a atenção desses semiretardados.
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