A guria me alimenta
como se eu fosse desnutrido,
mas se ela soubesse o
que passa na minha cabeça
perceberia que não sou
verbo nem adjetivo.
Eu sou substantivo!
Alcança a cueca virada,
empurra o chimarrão com
chá de erva-doce
e fala entusiasmada das
roscas com sabor calabresa
que trouxe do mercado.
Pergunta, feliz:
- Gostou da minha
rosca, meu bem?
Embretado, dou de
ombros:
- Amei...
Estratégica, quer me distrair
do bar e dos “falsos” amigos.
Seus papos e
insinuações a respeito da decadência dos valores
que imperam no A. Texas, tenho certeza, são pura retórica.
Por Deus! Ela ainda
acredita na minha salvação!
Tive um estalo (fodam-se,
não é mania de perseguição!):
desconfio que ela
deseja ser mais uma viúva do Texas
e vai tomar para si a
minha fortuna...
Elas, as viúvas e não
viúvas, têm o clube,
jogos de vôlei,
aulas de dança e teatro,
crochê, tricô, ioga,
meditação
e musculação.
Eu tenho o bar e a
parceria de alguns desajustados
e o campeonato de
futebol pela TV que anda uma bos**
(o time que escolhi pra
torcer não ganha de ninguém!).
Sinto um vazio, vocês
sabem, uma falta de amanhã,
e não suporto jogos de
bocha e canastra no clube.
Lá, os velhinhos se
aproximam
como uns sacos vazios
e me escolhem pra ouvir
suas histórias,
falando, falando e
repetindo
seu glamoroso passado:
muito trabalho,
muita disciplina
e arte
nenhuma.
(B. B. Palermo)
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