quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Eles


bêbados gostam de tocar 

abraçar

acariciar 

uns carentinhos 

que adoram cães abandonados 

circulando próximos 

aos bares

animaizinhos 

bem alimentados 

com olhar mais leve 

e alegre

do que os pobres 

que estão vigiando

pátios 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Papelões de 2022

 

Parece patético,  eu sei,

mas estou sem papel 

para aprisionar alguma

assombração 

que rondar a mente. 

Papel higiênico tem,

papel de parede

no cafofo também tem,

inclusive guardanapos. 

Papelões de conhecidos doidos fazendo cócegas 

em meus poemas,

nem se fala.

Restou o calendário 

de 2022 que a senhoria 

pendurou 

na parede da sala.

Como o ano está findando, 

reservei suas folhas

para rabiscar eventos hilariantes 

que vivi

e os papelões que colecionei,

e que um dia saberei se foram

fundamentais 

em minha história. 


Vontade de rir ou chorar 

eu tenho de montão, 

muito mais do que os estoques

de folhas em branco que possa

comprar.


(B. B. Palermo)

domingo, 18 de dezembro de 2022

Capitu meteu chifres no Bentinho


Pessoas enlouquecidas, 

vespas foram expulsas por tochas de fogo,

criaturas gritam exageradas 

e até desesperadas 

uns bullyings sofridos na infância. 

Fãs de inteligências "superiores",

lembram e idolatram Hitler,

e odeiam os que leem livros. 

Dizem que Machado de Assis, ao escrever Dom Casmurro, sabia Com certeza! que Bentinho

foi chifrado por Capitu.

Quando cheguei no bar

e o maluco veio em minha direção, 

o garçom falou:

Não entre na paranoia dele,

é um louco!

Mas se você quer criar boas histórias,

tipo as do Nelson Rodrigues, 

então preste muita atenção. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Papai Noel vestia vermelho


Numa das artérias principais da cidade,

um Ford T 1929 (primeiro carro do meu finado pai),

passou exibindo um Papai Noel magrinho,

constrangido,

vestindo roupa vermelha.

Foi sorte haver pouca gente na rua.

Seria terrível ver o pobre

ser bombardeado

por pedras arremessadas

por patriotas

enlouquecidos.

 

(B. B. Palermo) 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Acelera, Cadelão!

 

Última semana por aqui,

estou me despedindo das coisas.

Olho pra geladeira e lembro dos latões de cerveja

que "explodiram" no seu congelador, nas madrugadas,

deixando um rastro de manchas nas partes internas

de suas portas.   

São várias as tatuagens do fogão,

manchas de gordura, panelas quase queimando,

enquanto o ridículo cochilava embriagado no sofá.

Há centenas de marcas também na mesa de madeira,

afinal ela está comigo  faz umas 3 décadas.

Nela eu estudo, eu como e bebo.

A cama, idem. É incrível como ela sobrevive,

basta bater uns pregos e apertar os parafusos

da cabeceira.

O guarda-roupa é o soberano do quarto,

tem uma parede só para si,

e reclama que foi pouco lustrado, teve pouco brilho,

embora nunca tenha sido atacado pelos cupins.

A lareira me acompanha há umas 2 décadas e meia.

Sem ela, as noites de inverno seriam terríveis

para o poeta.

4 estantes guardaram os livros, uns bons,

outros ruins e outros mais ou menos.

Fiz questão de colocar os meus, "publicados",

junto aos livros do Dostoievski, do Hemingway

e do Bukowski.

O maluco que agora se despede

nunca foi internado em clínicas psiquiátricas,

não lembra se um dia usou drogas,

tem visão e audição em razoável estado de conservação,

tamanha a sua idade.


Acelera, Cadelão!

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Alice


 Pena que Alice não sabe

que nos conhecemos

no País das maravilhas.

Perdeu a memória

e diz que em toda a sua vida

foi uma diarista.

Chora o aluguel atrasado,

os crediários e mais um fim de ano

que se aproxima.

Suas paixões adolescentes já faz um bom tempo

que foram esquecidas.

Alice é plena,

em seus olhos pulsam oceanos

de vida.

Alice não sabe, e isso é uma pena,

que tem o poder de desatar os nós

em que me enredei

durante toda a minha

vida.

 

(B. B. Palermo)

domingo, 20 de novembro de 2022

Meio bobo


 

Talvez não devesse dizer,

mas estou apaixonado por você.

Isso é meio bobo,

eu sou totalmente bobo,

mas eu preciso dizer,

até porque hoje estou aqui

e amanhã

estarei noutro lugar.

Estou poetizando, eu sei,

é que sou um seguidor do

Fernando Pessoa,

que nunca soube que eu existo.

Podes rir, ainda acredito

que um dia vou encontrar

o meu lugar.

Eu não devia dizer,

mas é que sou meio bobo.

 

(B. B. Palermo)

sábado, 19 de novembro de 2022

Quero me internar

 

Beiço, ontem de tardinha eu e o K. Marx

fomos até a casa do Carleone.

O maluco passou alguns dias no hospital

restaurando tubos e conexões

que distribuem o sangue do seu coração

para o resto do corpinho.

Meu, tive que dar conta de todos os latões de cerveja

que estavam na geladeira,

já que ele está proibido de beber.

Véio, é sério, morri de inveja

do desgraçado.

No hospital, esteve rodeado e paparicado

por uma legião de lindas garotinhas - as médicas

e enfermeiras.

Cara, se eu pedir pra ser internado

será que vão me chamar de

hipocondríaco?

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Acenda a tua luz

 

- Como tu está, meu gatinho?

- Tirando a preguiça, a velhice e o alcoolismo,

me sinto ótimo, baby. Traga a tua lanterna,

que o dia clareou observando sabiás acasalarem

e gatas no cio

nos vigiam.

As noites de novembro são um saco

e os bares andam sem graça.

Acenda a tua luz

antes que o cérebro exploda

e o coração vire pedra.

Baby, dessa vez pinte nossa casa

com as cores certas,

e pare de jurar que a tua rotina

é insuficiente para nos 

derrubar.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Ira

 

A banda Ira consegue acalmar

um lúcido bebum.

Talvez signifique alguma coisa.

Não tem como fugir das tragédias,

vejo no Face, nos sites ou de amigos que me ligam.

Suicídios, o câncer, os negócios estranhos,

listas de inimigos fantasmas.

Não compreendo o fato de ainda ser

um otimista

estranho.

A música desses caras ajuda

a suportar.

 

(B. B. Palermo)



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

As tubulações clandestinas do WhatsApp


Sombras clandestinas

cheiram a urina,

mentiras maravilhosas

alegram ratões

idiotas.

A merda desce faceira

e a todos comove

pelas tubulações do Whats.

Torço para que a bateria do celular volte a ser virgem

e perca sua luz.

Me recolho no quarto escuro

e sozinho me sinto bem.

Uma frase explode na cabeça,

agora de manhã,

segundo tempo do meu sono:

"Alegre-se, talvez alguém se lembre de você

quando morrer".

 

(B. B. Palermo)

 

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...