Poesia em apoio às famílias e em memória às vítimas da tragédia da boate Kiss.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
segunda-feira, 6 de dezembro de 2021
Outro ensaio sobre a cegueira
Algumas coisas
entristecem
e amordaçam.
O povo adora
frequentar
igrejas e farmácias.
E como ficam o teatro,
cinemas e livrarias?
Só fica a saudade
do que já foi um dia.
Tudo tem seu lugar, você me diz.
Tudo está fora do lugar, eu te digo.
Como qualquer outra doença,
a cegueira não devia
ser considerada
normal.
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
Paulo Coelho - Maktub
Um dos mais poderosos exercícios de crescimento interior consiste em prestar atenção a coisas que fazemos automaticamente - como respirar, piscar os olhos ou reparar nas coisas à nossa volta.
Quando fazemos isto, permitimos que nosso cérebro
trabalhe com mais liberdade - sem a interferência de nossos desejos. Certos
problemas que pareciam insolúveis terminam sendo resolvidos, certas obras que
julgávamos insuperáveis terminaram se dissipando sem esforço.
Diz o mestre:
Quando você precisar enfrentar uma situação difícil,
procure usar esta técnica. Exige um pouquinho de disciplina - mas os resultados
são surpreendentes.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
O que vier vem bem
Depois de certa idade,
não confio no plano A.
Até simpatizo com o plano B.
Plano C, por que não?
Depois de certa idade,
o que vier vem bem.
Certa experiência adquirida
mostra que todas as alternativas
podem estar corretas,
ou que nenhuma está.
Não suporto a visão calculista
de que em tudo na vida
há causas e consequências.
Você simplesmente vai lá e faz.
Só quero estar sossegado
no meu canto
inventando histórias,
rindo das apostas ridículas
que fiz
e dos tombos
que caí...
(B. B. Palermo)
quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
MEUS FANTASMAS PARECEM CORVOS
Um senhor vinha pala calçada,
aproximou-se e tive calafrios:
ele era eu.
Nuvens no céu desenharam
criaturas de nossa fauna:
cães, gatos, jacarés e lagartos
com suas formas desfiguradas.
Entardecia e as cores estavam vivas
e imploravam pelas tintas, pincéis
e o cavalete de Van Gogh.
O senhor eu mesmo tinha barriga acentuada,
cabelos brancos e pretos misturados,
e pareciam crescer
despreocupados.
Enfim chegou o crepúsculo,
luz e trevas duelando.
Olhava para o senhor e me via,
nenhuma dor ou alegria.
Ele eu mesmo carregava uma sacola
e uma mala,
poderia estar indo à escola
para aprender o que se perdera.
Poderia estar voltando
de uma tarde de bons negócios.
Poderia estar saindo de casa,
livre de um matrimônio
de 30 anos.
O senhor é meu espelho,
dossiês revelando
meus sucessos,
fracassos,
fiascos.
Tenho medo de sair de casa.
Sinto calafrios
ao ver esses fantasmas
rondando por aí
feito corvos.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 30 de novembro de 2021
Contemple o universo
Você prosperou,
as riquezas do mundo estão a seus pés.
Acesso à medicina e seus remédios,
educação, tecnologia de ponta,
conforto.
Você dirige um carro que vale mais de cem mil.
Nada justifica esse semblante preocupado,
fumando um cigarro atrás do outro.
Relaxe, observe a obra de arte
que é a dança das águas
beijando as pedras,
nesses córregos cristalinos
correndo pelos campos,
vales e montanhas.
Pare de vez em quando,
fique em silêncio
contemplando o universo.
Devia estar radiante por desfrutar e compartilhar
toda essa aura com seres tão diferentes
e semelhantes a você.
Nossas posses,
nossos pulmões,
nosso coração safenado,
nossos rins e fígado, etc., etc.,
fotos, memórias e diários da infância...
Todos eles e tudo o mais
que tu imaginar
um dia qualquer
ficarão para trás.
(Pensamentos & poemas espirituosos)
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Esses ônibus alaranjados
Vejo esses ônibus
dobrando esquinas
com aparência exausta
de quem está sempre atrasado,
mas convicto do seu destino.
Eles sabem de onde partiram,
eles sabem onde querem chegar.
Observo essas entidades urbanas,
seguras de si,
me olho no espelho
e não vislumbro
o meu caminho.
Esses ônibus alaranjados
dessa cidade perfeitinha
me dão vontade
de chorar.
(B. B. Palermo)
domingo, 28 de novembro de 2021
Buda já falou
Alguns seguem cabisbaixos.
Outros assistem o fluxo que passa
de braços cruzados.
Milhares de ideias confusas,
cabeça vazia ou cheia de tudo.
Há esperança,
ódio,
rancor,
compreensão,
desconfiança.
Alguns se importam com os outros.
Muitos acham que as pessoas que as cercam
são obstáculos,
barreiras a serem derrubadas.
Tamanho esforço conduz à solidão.
Corremos em busca da felicidade.
Mais rápida,
ela escapa,
então andamos na contramão.
Há descidas bem suaves,
porém optamos por caminhos mais íngremes.
É que não ligamos para o que Buda falou:
Liberte-se dos pensamentos e emoções
frios,
calculistas,
individualistas.
Somos uma partezinha no todo:
tempestades,
fogueiras acesas,
cinzas abandonadas.
Somos quase normais,
somos quase loucos,
somos de tudo um pouco.
(Pensamentos & poemas espirituosos)
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Bukowski repousa atrás da geladeira
Baixou um temporal
e as cachorras do
prédio ao lado
dançam na sacada,
bêbadas.
A namo está distante,
e não sei expressar
direito
o amor que sinto por
ela.
Sujeitinho bipolar,
minha energia louca
fica mais corrompida
a cada taça de vinho.
A inocência ridícula
contempla o umbigo
e faz planos,
vai baixar a barriga,
turbinar a
musculatura
e atrair olhares e
corpos
de algumas princesas.
Planos não levam a
nada,
Buk já dizia, QUERO
AÇÃO,
MENOS BEBEDEIRA
E MAIS INSPIRAÇÃO!
Pouco leio, pouco
escrevo,
quando saem algumas
linhas tortas
amasso a folha e
acerto a lixeira.
Há também a vergonha
matutina
de bater de frente
com o que escrevi
na noite anterior,
depois de duelar com
algumas garrafas
de vinho
barato.
Paira no ar uma louca
intuição:
sentir a presença do
velho poeta
em meio a folhas e
guardanapos rabiscados,
porres e amores
frustrados.
Escolhi O Notas de um velho safado
pra me fazer
companhia.
O cômico me observa,
compenetrado,
sobre a mesa.
Hoje percebi que boa
parte de suas folhas
estão molhadas pelo
vinho
que entornei ontem de noite.
Não tem outro jeito:
abro-o pelo meio
e o penduro atrás
da geladeira.
Se ele secar direitinho,
prometo parar de beber.
Sei que estou blefando,
sei que sou tão desvairado
quanto ele.
Minha vida anda bagunçada
Igualzinha ao meu cafofo,
entupido de latas
e garrafas vazias.
Minha alma bêbada
está presa às redes do subsolo,
rasteja por aí,
é ao mesmo tempo
crente e cética.
O Velho Safado
desencantou minha vida
com armadilhas
etílicas
e poéticas.
(Américo Piovesan)
terça-feira, 23 de novembro de 2021
Uma dúzia de vezes eu sonhei
Uma dúzia de vezes vendi meu guarda-roupa.
Pense numa coisa que reina absoluta,
tomando conta de uma parede
do meu quarto.
5 portas,
2 maleiros,
muitas gavetas e cabides,
interior imenso.
Bela árvore de cerejeira,
cuidadosamente retalhada
e envenenada
para expurgar
cupins.
Obra toda lustrosa
que abriga centenas de peças de roupa
que um dia sonho doar.
Uma dúzia de vezes mudei de casa,
morei em praias,
viajei pra Europa,
publiquei meus livros.
Uma dúzia de vezes eu sonhei.
Minto.
Sonhei a vida inteira
e vou sonhar mais tantas vezes
até a eternidade.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
Lábios levemente lambuzados por batons discretos
Nenhum drama moral,
o que vale é que nessa madrugada
você encarou algumas garrafas
e alguns bons poemas.
Você não copiou,
não imitou,
teve coragem de sentar no vaso do banheiro
e dar descarga na originalidade.
Você não vai encontrar estilo
nem classe
nesses poetas engomados,
candidatos a prêmios literários
e a palestras
nas universidades.
Fique down,
não negocie com Dona Morte,
não dê chances ao suicídio.
Você nunca será homenageado
com uma estátua
ou como nome de rua.
Pra dar vida à sua arte,
faça como eu:
me encanto ao contemplar, de longe,
jovens garotas policiais
com suas algemas,
pistolas,
cassetetes e lábios
levemente
lambuzados
por batons discretos.
A imaginação me diz que suas fardas
bem passadas
aprisionam feras
que desejam muito mais
do que manter a ordem
nas ruas.
Sei outras coisas cabeludas,
por isso as observo camuflado
pelos troncos das árvores.
Quando não estou bêbado
eu me calo.
Poetinhas, contenham-se!
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