quinta-feira, 7 de novembro de 2019

De mãos dadas com senhor Sombra



Farmácias brotam diante dos olhos
feito tiririca nos gramados.
Bares aguardam bêbados convictos e tímidos
e outros tipos que fazem estágio.
Alguns serão aprovados, outros serão resgatados
por pastores de igrejas.
Entre bares e farmácias, escolho os primeiros.
Em vez de paroxetina e valium e prozac,
prefiro cervejas e canecos de chope.

Estou feliz porque ninguém sabe
do banho enforcado e do sovaco a mil.
O dia começa as 12h e o almoço é as 16h.
Uma voz ensombreada, diz:
- Ainda vou te levar ao céu.

O Sombra, um cara que dizem ser meu eu mais profundo e radical,
um Cadelão do avesso e vesgo e falso,
ri do meu perfil quando juro que sou sincero.
Até hoje não me acostumei com esse sujeito
grudado no meu pé.

Todo dia pessoas sinalizam posturas bem comportadas,
como se fossem pintores envernizando minhas faces,
maquiando o meu perfil.
Coachings me perseguem e tagarelam com mensagens amplificadas.
Falam do meu sucesso, embora sabendo que não passo de uma abelha
se debatendo nesse vespeiro.
Não vejo muitas opções, a não ser farmácias e bares.
Até dou-lhes atenção, porém o estoque de remédios
e de paixões sempre recua.
Estou cheio de ouvir a velha melodia:
- Aproveite e sugue a calmaria das tempestades
que essas drogas propiciam. Viver
é  sair pra chuva e se molhar.

O estetoscópio do médico nunca vai alcançar as moléstias
duma multidão de imbecis.
Sujeitos estranhos dizem:
- O mal se cria na cabeça, meu irmão.
Tenho visto tanta gente deprimida por aí.
A toda hora disparam sirenes dos bombeiros.

Lendo um livro de uma psicanalista
eu me convenci de que sou ressentido.
Tomei conhecimento das opiniões e feitos de uns próximos
e tive gases e refluxo e frieiras e azia.
Culpado disso tudo é o Sombra,
é ele que inveja um amigo, só porque o cara fala 4 línguas.

O dia passou de carona numa tempestade.
Dormi pouco pra não faltar a um encontro.
Possuí-la era o alvo, mas o tempo fez um desvio.
Então estrelas nasceram e outras morreram.
Nada de flores, nada de presentes.
Agora estou no princípio da escada
e tenho uma visão realista do meu ser.
Olho pra cima e sei que não chegarei no topo.
Tudo culpa da delicadeza e doçura e alma leve do Sombra.

Ganhar tempo. Não sei se pago as contas
que pendurei nos botecos da avenida,
ou se torro os 700 pilas no Degrau's.
Janusa - o traveco bruxuleante - ligou,
quer me apresentar uma princesa cheirosa
como angorá que retornou do pet shop.
Janusa é irresistível, de personalidades múltiplas,
e conhece os atalhos do prazer.
Cresceu num lar em que germinaram incesto e pedofilia
e brilho da lâmina da navalha e estampidos de 38
e álcool e drogas em carreiras bem alinhadas.
Ela (ele) sabe que a disputa
entre Cadelão e Sombra é desigual.
Quando o Sombra vence em disparada
e Cadelão entorna os primeiros copos,
Janusa balança a cabeça com cara de alucinada,
como se presenciasse o fim dos tempos
e bota a culpa no destino.

Hoje estou cheio de ontem
e os bares dessa avenida continuarão me esperando
com suas pernas abertas e mesas nas calçadas.
Mas hoje passarei ao longe,
eles não fizeram por merecer minha
ressaca bizarra,
que desfila por aí de mãos dadas
com senhor Sombra.

(B. B. Palermo)

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Leia o Livro, Veja o Filme: Mas Não Se Matam Cavalos? / A Noite dos Desesperados


“Fiquei de pé. Por um momento vi Glória de novo, sentada no banco no píer. A bala acabara de atingir a sua cabeça, de lado, o sangue ainda nem tinha começado a escorrer. O brilho do tiro ainda iluminava seu rosto. Tudo estava claro como o dia. Ela estava completamente relaxada, completamente à vontade. O impacto da bala tinha virado sua cabeça um pouco para o outro lado; eu não tinha uma visão perfeita de seu perfil, mas podia ver seu rosto e seus lábios o bastante para saber que ela sorria. O promotor se enganou quando disse ao júri que ela morreu em agonia, sem amigos, sem outra companhia a não ser a de seu cruel assassino, ali, naquela noite escura, à beira do oceano Pacífico. Ele estava completamente enganado. Ela não morreu em agonia. Ela estava relaxada, confortável e sorria. Foi a primeira vez que a vi sorrir. Como poderia estar em agonia? E não estava sem amigos. Eu era o melhor amigo dela. Eu era o único amigo dela. Como é que ela não tinha amigos?”

“Mas não se matam cavalos?” começa com o parágrafo acima e, a partir do julgamento de Robert, narra em retrospecto a jornada do protagonista, desde seu primeiro encontro com Glória até o trágico desfecho da relação. Era época da Grande Depressão americana. A fome assolava a população e o desespero levava a atitudes insanas.

Robert Glória se conheceram na Melrose Avenue. Ele saía do estúdio da Paramount, aonde tinha ido mais uma vez tentar a sorte, enquanto ela corria ofegante e maldizia o ônibus que tinha acabado de perder. Ele era do Arkansas; ela, do Texas. Ambos haviam deixado seus estados de origem para trás e rumado para a terra das ilusões em busca de um sonho – Robert queria ser roteirista e Glória almejava ser atriz. Depois de um certo tempo sobrevivendo de pequenos papéis, a dupla já não tinha muita esperança. A última cartada dos dois era participar de uma maratona de dança que anunciava um prêmio de 1000 dólares ao casal vencedor.

À primeira vista, uma maratona de dança pode soar estranho e uma saída fácil para Robert e Glória, já que os participantes tinham garantidos abrigo, banho, comida e atendimento médico. Todavia, aos poucos o verdadeiro horror da atração vai ficando evidente: era uma arena na qual os dançarinos chegavam ao limite dos seus corpos, se digladiavam até a exaustão, passavam por tortura psicológica e eram expostos a humilhações e todo tipo de engodo para entreter o público e atrair patrocinadores. Uma mistura assustadora de Jogos Vorazes com reality show de dança.

Glória era uma garota amarga, que sofreu abusos, foi vivendo de favores e pulando de sofá em sofá, apenas tentando sobreviver. Na época em que conheceu Robert, já não tinha mais nenhuma fé na humanidade. A frase que mais pronuncia durante toda a história é ‘Queria estar morta’. Sem dúvida, triste e deprimente, mas não incompreensível. Como julgar as atitudes de alguém que só conheceu o pior da vida e que não tem mais perspectivas de futuro?

Robert ainda mantinha a essência de sonhador. Repreendia constantemente a amiga por seu pessimismo, tentava apontar saídas. Mesmo no salão claustrofóbico, em meio a uma multidão disposta a qualquer coisa para conseguir alguma vantagem, ele ainda buscava os raios de sol e pensava no mar. Ainda que estivesse em um ambiente de ‘vale-tudo’, ele conseguia ser cortês e solidário. Entretanto, os esforços individuais nem sempre bastam para mudar o destino.

Eu sempre achei esse título curioso. Outro dia, estava folheando o “1001 Livros Para Ler Antes de Morrer” e vi a indicação desse livro lá. Como era curtinho, consegui encaixar entre minhas outras leituras programadas e, sinceramente, foi uma ótima escolha. A história da luta pela sobrevivência em uma pista de dança não poderia ser mais intrigante e desoladora. Os personagens são bem reais e o título faz todo sentido.

Para variar, mais um filme adaptado de livro. Sydney Pollack levou a história para as telas em 1969, com Jane Fonda no papel de Glória e Michael Sarrazin encarnando Robert. A produção foi recordista em indicações ao Oscar de 1970 entre os filmes não indicados na categoria de melhor filme.

O diretor faz os protagonistas se encontrarem pela primeira vez já dentro do salão, quando Glória procurava um par e Robert entra no local por acaso. À narrativa da competição são mesclados flashs da infância de Robert, que fazem a ligação do título original com o desfecho fatal da trama.


Em geral, é uma adaptação bastante fiel. As cenas de participantes surtando sob o estresse são angustiantes, e as disputas do derby são ainda mais terríveis e violentas do que aquelas que minha imaginação havia criado. Para compensar, os pequenos solos de Robert banhado pelos raios de sol são um respiro de delicadeza em meio à brutalidade reinante na pista. As explicações do organizador sobre os cálculos e taxas impostos aos vencedores são revoltantes e, mesmo tendo sido inventadas para sustentar uma alteração da história, estão em total conformidade com a ideia de exploração dos miseráveis apresentada no livro.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Meu amigo é um especialista em correr atrás de ******

Beiço sempre pergunta: "Cadê os acontecimentos sublimes, que masturbam os sentidos?"
Suponho que isso tem a ver com suas trapalhadas com garotas, as "putas". As coisas andam sintomáticas. Ele se comporta com a seriedade de um pesquisador, cientista social, um especialista em comportamento humano. Pra ele é fundamental saber se uma garota é "fácil" ou "difícil", por que fica com muitos caras ou não...
Nos barezinhos de quinta categoria é farto o material para nossa análise. Ainda mais estando rodeados de uns escrotos, uma corja satisfeita com os papéis que desempenha por aí.
Discursos agudos de operários batendo o ponto e colocando uns jalecos surrados pra iniciar novo turno, e dizendo "graças a Deus que eu tenho um emprego!"
Conversavam, como se tivessem se reencontrado depois de décadas, como se estivessem retornando de uma guerra, como se tivessem nascido de novo.
Suas necessidades são terríveis aos olhos do Beiço, o especialista: desejam adquirir uma arma, como se estivessem diante de inimigos terríveis, como se sua sobrevivência dependesse do extermínio desses "monstros".
Falam ao mesmo tempo, como porcos devorando a última refeição. Suas opiniões políticas e econômicas e morais são perfeitas. Nada que não possa ser reciclado, virar adubo e ser tragado pela natureza.
Um horror. Afastei-me do balcão do bar com uma garrafa de cerveja no colo, cuidando dela como se fosse meu bebê, e uns garotos viciados em coca-cola me fitaram, como se eu desembarcasse de outro planeta.
Tempos estranhos. Belos foram os ataques de espirros no sujeito duma mesa, que discursava sobre suas dívidas aos bancos. Milagre, todos que estão próximos têm dívidas nos bancos. Num momento incrível, eu falei e eles me ouviram. Quase chorando, disse-lhes que devo pra meia dúzia de bancos, e que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão".
Esses papos me fazem crer que os vermes não são seres inferiores e desprezíveis, um ato escrotinho da criação. Nessa bagunça, cada bêbado vomitando sua verdade, uma voz, que ficou represada em cada sonho desses nojentos, o que poderia ter sido e não foi, limitou-se a dizer: "O mais importante é você jogar álcool nessa carcaça".
Chegava a noite e eu estava sem rumo, e não sabia e nem queria ir a qualquer lugar, e sugava a segunda cerveja. Como um nevoeiro, a febre baixou sobre meu ser: penso agora em boceta. Claro, sou influenciado pelas teses do Beiço.
Enquanto a fala do meu amigo era abafada pela gritaria dos demais bebuns, observei o trânsito na avenida. No sinal fechado uma motinha fodida aguardava na frente dos carros. Enquanto esperava, o cara tentou engatar a primeira marcha... e nada. Fiquei tenso. O sinal abriu e ele arrancou numa terceira, juro que eu vi! A moto partiu indecisa, toda insegura, como certas mulheres loucas pra dar... Isso, sejam mulheres ou sejam homens, muitas vezes cedemos mais do que planejamos. A maioria não quer se expor, porém posta fotos sensuais na internet. Observo as garotas, muita bunda e peito e poucos olhares interessantes. Mesmo assim, sempre a lengalenga: "Não quero que a sociedade me rotule como veado ou puta!".
Três garotas sentaram noutro canto, cigarros, salgados, celulares e olhares a postos. Maquiagem, roupas sensuais e, influenciado pelo Beiço, imaginei que elas eram do brique. Que merda, eu ali, um coroa carregado de preconceitos e sacolas com queijo e massa e cebola e tomate e uma garrafa de uísque, fazendo hora antes de voltar para casa e me enrolar no cobertor da minha solidão. Encolhi de tamanho ao notar que elas se interessaram pelo garoto frentista, de uns vinte anos. Elas olharam pra ele, eu vi tudo, e eu não existia.
Ah, as minhas garotas. Saco, ou são muito gordas ou são esqueléticas. Amiguinhos, aprendi com o Beiço, não ligo pra alma das mulheres, se têm de fato. A ideia fixa é na roseira, sim, e eu me torturo e tenho prazer de lembrar como foram esses paraísos, as garotas que posaram, paisagens de minha memoria. Relembro como cultivava, quer dizer, conquistava, até desfrutar na cama aquela flor que despetalava com paciência e técnica. Bem-me-quer, malmequer... de início com os dedos e logo depois às beiçadas. Se alguém assistisse a cena, a garota com as pernas totalmente escancaradas e eu com a cabeça ali mergulhada, creio que acharia cômico.
Vou repetir: minhas ideias fixas resultam dos conceitos giratórios que ouço do Beiço. Hoje ele está mais estressado; com o trabalho, o patrão, a vida que leva. Anotei várias coisas no meu bloquinho. A primeira foi ele dizendo que "nós, Cadelão, somos uns operários de bosta, não especializados, uns iludidos e enfeitiçados por um prato de comida. É isso, velho, só pensamos em comer, comer e sobreviver". Não entendi se "comer" era literal ou figurado. E disse mais: "Somos uns cretinos acomodados. Se nos mandarem andar de quatro, nós andamos". De novo não entendi se "andar de quatro" era literal...
Eu dizia Menos, Beiço, menos, enquanto ele acelerava na quinta marcha.
- Cadelão, além de falarem demais, essas criaturinhas trepam contigo uma única vez e já pensam no amor!
Disse a ele Meu amigo, mude o foco, pense no privilégio que é ouvir esses bêbados, saca só o efeito terapêutico disso. Sabe, aqui estou vacinado contra o cheiro e a imagem que fica da estrumeira que todos mergulham no dia a dia, tipo alegrar-se com as tragédias dos outros, ou sofrer por causa do sucesso desses outros. Beiço, agarre essa imagem: uma multidão de sapos coaxa amargamente num pântano de merda.
Senti que ele apertou os olhos... como se a bebida tivesse acelerado seu efeito. Continuei: Estou aqui, carregando caneta e bloco de papel e uns trocados pra beber cerveja. Mergulho nessa atmosfera, mas é como se não fizesse parte do ambiente.
Beiço mexia as mãos, estralava os dedos, parecia impaciente. Saquei que era hora de voltar a ouvi-lo, retomar o assunto verdadeiramente importante: como ter sucesso ao correr atrás de boceta!

(B. B. Palermo)

Ele dá um beijo contido...



Ele dá um beijo contido, parece um coelhinho de longas orelhas rosadas; morde de leve a boca de Lucienne, como se estivesse mordiscando uma folha de repolho. Ao mesmo tempo, seus olhos redondos e brilhantes repousam na bolsa aberta ao lado dela, na cadeira. Espera só o momento de poder dar o fora, está louco para ir embora e se sentar nalgum café sossegado da Rue du Faubourg Montmartre.
Conheço-o, o diabinho inocente, com seus olhos redondos e assustados de coelho. E sei que diabo de rua é aquela, com suas placas de bronze e artigos de borracha, as luzes piscando a noite toda e o sexo correndo por ela como um esgoto. Andar da Rue lafayette até o Boulevard é como passar pelo castigo das varas na caserna, pois as putas grudam em você como cracas, devoram-no como formigas, elas adulam, tentam convencer, prometem, pedem, imploram, experimentam falar alemão, inglês, espanhol, mostram seus corações sofridos, seus sapatos gastos e muito depois de você se livrar dos seus tentáculos, muito depois da agitação e do gemido acabarem, as suas narinas continuam com o cheiro de lavabo impregnado, ou o cheiro do Parfum de Danse, de eficácia garantida à distância de vinte centímetros. Alguém poderia passar a vida inteira naquele pequeno trecho entre o Boulevard e a Rue lafayette. Cada bar é agitado, vibrante, o jogo corre solto, os caixeiros ficam debruçados como abutres em seus bancos altos e o dinheiro que manuseiam tem cheiro de gente. Não há similar no Banque de France para o dinheiro sujo que circula por ali, o dinheiro que brilha com suor humano, que passa como um incêndio florestal de mão em mão e deixa uma fumaça e um mau cheiro. O homem que consegue andar pela Faubourg Montmartre à noite sem ofegar ou transpirar, sem fazer uma prece ou rogar uma praga, um homem assim não tem colhões e, se tem, deveria ser castrado.
Supondo-se que o tímido coelhinho gaste cinquenta francos por noite enquanto espera sua Lucienne. Supondo que ele sinta fome e compre um sanduíche e um copo de cerveja, ou pare e converse com a puta de outro. Você acha que ele deve estar cansado dessa rotina toda noite? Acha que isso pesa, oprime, mata-o de tédio? Você não pensa, espero, que gigolô não é ser humano? O gigolô também tem suas tristezas e misérias pessoais, não se esqueça. Talvez ele ache que não existe coisa melhor do que ficar na esquina toda noite com dois cachorros brancos, olhando-os mijar. Talvez ele gostasse de, ao abrir a porta, vê-la lá lendo o Paris Soir com os olhos já meio pesados de sono. Talvez não seja tão maravilhoso, ao se inclinar sobre sua Lucienne, sentir o cheiro de outro homem. Talvez seja melhor ter apenas três francos no bolso e dois cachorros brancos que urinam na esquina, em vez de sentir aqueles lábios que foram muito roçados. Aposto que, quando ela o abraça apertado, quando pede aquele pouquinho de amor que só ele sabe dar, aposto que ele luta com mil diabos para conseguir que o pau levante, para afastar aquele regimento que marchou no meio das pernas dela. Talvez, quando a pega e cantarola uma nova canção, talvez não seja só paixão e curiosidade o que sente, mas uma luta no escuro, uma luta solitária contra o exército que investiu contra os portões, o exército que passou por cima dela, de tropel, e deixou-a com uma fome tão devoradora que nem um Rodolfo Valentino seria capaz de aplacar. Ao ouvir as acusações que fazem contra uma garota como Lucienne, ao ouvir ser denegrida ou humilhada por ser fria e mercenária, mecânica demais ou ter muita pressa, por isso ou por aquilo, penso: para com isso, cara, devagar com o papo! Lembre-se que você está no fim da fila, lembre-se que um regimento do exército já a sitiou, devastou, saqueou e pilhou. Penso: escuta, cara, não inveje os cinquenta francos que paga a ela, pois sabe que o gigolô dela os está desperdiçando agora no Faubourg Montmartre. O dinheiro é dela, o gigolô é dela. É dinheiro sujo. É dinheiro que jamais sairá de circulação porque o Banque de France não tem como resgatá-lo.

(Henry Miller. Trópico de câncer, pp. 149-150).

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Gente, esse cara é muito louco!


Trouxemos dois garotos até minha casa, depois de jogarmos sinuca num bar. Eles carregavam razoável estoque de erva. Consegui um papel dos bons, de caixa de tênis, pra um deles fechar alguns. O objetivo da aproximação e da amizade, desde o bar, era pra que nos apresentassem, num futuro próximo, algumas amiguinhas. Ainda mais depois que eles disseram que costumavam fazer suruba com elas. Eram bons no baseado. E isso dava um apetite do caralho. No caminho pra minha casa o Dr. Biza comprou, junto com a dúzia de latões de cerveja, dois quilos de salame. Foi devorado em questão de minutos. Os garotos falavam de umas surubinhas que faziam com suas garotas e o Dr. Biza me fitava, como a dizer, Viu só, Cadelão? Logo eles conseguem umas ninfetas pra gente! Cada um deles enfatizou que sua mãe é louca, e por isso tiveram depressão e por isso tantos remédios e por isso a necessidade das drogas. Cada um de nós teve mãe louca e eu falei da minha que era louca desde que me conheço por gente, e então inventei histórias das loucuras que mamãe fazia e disse pra eles Vocês não fiquem assim deprimidos, isso tudo é passado. Viram só como nós somos os caras? Apesar de crescermos com nossas mães loucas, aqui estamos, com um emprego e fazendo curso superior. Eu dizia isso e pensava Grande bosta, e aí então eles botaram pra tocar Rap e eu pensei Não posso fazer nada, o que me resta é encher a cara e dizer Sim sim. Eles só ouviam esse tipo de música, e era esse cara, e era aquele outro, letras com temáticas sociais até empanturrar. Eu me expiava em silêncio e me dizia Sim, sou um velho sujo e sublime e vazio de tudo. Disse pra eles Interessante o som que vocês curtem, eu pretendo criar um batalhão de fuzilamento pra botar no paredão esses imbecis que gostam de sertanejo universitário. Os garotos me fitaram com aqueles olhões vermelhos apavorados e pensei ter ouvido Tu é dos nossos, pode nos chamar, nos alistaremos no teu exército, o mundo ainda tem salvação. O baseado era dos bons. Aí eles falaram de suas experiências com LSD, e como essa droga agia, e como se sentiam depois da viagem e eu disse Li um bocado sobre, mas nunca usei. Vocês leram "As portas da percepção", do Aldous Huxley? Eles não conheciam, eu disse a eles Nunca usei LSD, estou satisfeito com os vôos que a marijuana me proporciona. Então os garotos atacaram a fruteira. Em minuto os pêssegos e maçãs e bananas foram devorados. Cinco da manhã, Dr. Biza e os garotos se foram e me deixaram com algumas cervejas e um baseado prontinho. Dei umas tragadas e fui pro pátio olhar a lua. Estava um terço de minguante e estava linda e disponível só para mim. Disse pra ela Ó, querida, bem que tu podia me ofertar aquela roseira que tu tem no meio das pernas, quentinha, perfumada... Por favor, me chama Vem vem me come sou todinha tua nessa madrugada inesquecível! A lua me fitava espantada naquele seu brilho afetuoso e murmurava pra suas amigas estrelas Gente, esse cara é muito louco! Voltei pra dentro de casa, Cadê as pernas de salame? Cadê as frutas? Invadi a geladeira, num pote havia bife e arroz meio congelados, devorei aquilo tudo com farofa e fui dormir.

(B. B. Palermo)

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Trópico de câncer - Henry Miller

Germaine era puta. Não esperava o homem se aproximar dela: ia e o agarrava. Lembro bem dos furos nas meias dela, dos sapatos tortos e gastos; lembro também que ficava no bar com uma determinação corajosa e cega, engolia uma bebida forte e saía de novo para a rua. Uma puta! Talvez não fosse tão agradável sentir aquele hálito de bebida, aquele hálito formado por café fraco, cognac, apéritifs, pernods e todas as outras coisas que ela engolia nos intervalos, tanto para aquecer-se quanto para juntar força e coragem; mas o fogo da bebida entrava nela, ardia entre as pernas onde as mulheres deviam arder e formava-se aquele circuito que faz com que se volte a sentir a terra sob os pés. Quando ela se deitava com as pernas abertas e gemendo, mesmo que gemesse daquele jeito para todo e qualquer freguês, era bom, era uma demonstração adequada de sentimento. Não ficava olhando para o teto com olhar vazio ou contando os percevejos no papel de parede, ficava atenta à sua tarefa, falava nas coisas que o homem quer ouvir quando está trepando com uma mulher. Ao passo que Claude, bom, com Claude tinha sempre uma certa delicadeza, mesmo quando ela entrava debaixo dos lençóis com você. E a delicadeza dela agredia. Quem vai querer uma puta delicada! Claude chegava a pedir para você olhar para o outro lado quando se sentava no bidê. Tudo errado! Quando o homem está queimando de paixão, quer ver coisas, quer ver tudo, até mesmo como elas mijam. E, embora seja muito bom saber que a mulher pensa, a última coisa que se quer na cama é literatura vinda do cadáver frio de uma puta. Germaine estava certa: era ignorante e robusta, punha o coração e a alma no ofício. Era uma puta dos pés à cabeça, e essa era a sua virtude!

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Ao sentar no vaso, fez-se a luz



Foi uma alucinada no banheiro que trouxe a luz. Os traços geométricos dos azulejos são ridículos. Os tapetes também. Distraído, ouvia a narração da partida de futebol na TV da sala e meus olhos se encheram de areia ao ouvir o esforço que o narrador e comentaristas faziam pra animar uma quimera de jogo. Teu cu! - pensei - dane-se a obrigação de manter elevado o ibope dessas merdas de programas de televisão.
As coisas rolavam nessa pegada no domingo à tardinha. Saquei, com vontade de dar voadoras nas portas das casas do condomínio, que as coisas funcionam dentro de certa lógica. Sempre a lógica que põe na cabeça da galerinha o que é normal. Nos noticiários, quando abordam a cultura popular, tipo Festa de São João, os filhos da puta apenas enfatizam o incremento na economia, hotéis, gastronomia. Estatísticas e números. Teu cu que isso é normal, teu cu que isso é apenas má-fé! Isso é falta de pauta, meus amigos!
Vocês diriam, Pare de usar em vão o nome de tão magnífico órgão, afinal toda a natureza necessita dessa válvula de dispersão, inclusive árvores têm ânus e blá-blá-blá...
Concordo, pessoinhas, *** são abordados e acariciados e endeusados e, muitas vezes, humilhados... e não apenas pelos sentidos. Há o discurso de gênero, o político e o científico e tals. Observem a importância acadêmica de refletirmos sobre o ** do imaginário, o ** da fantasia, o ** do inconsciente. Beiço direciona seus olhos pálidos pra outra coisa, já que diz que sou meio repetitivo: Cadelão, e o rabo da loirinha, hem? É... aquela que fez a dancinha da garrafa e ficou horas sassaricando no teu colo esses dias, naquele puteiro...
Pelo amor de Deus, deixem o ** seguir seu fluxo, cumprir sua indispensável missão, seja em árvores ou peixes ou insetos ou bichos ou humanos. Um poeta disse que pedras têm cu! Quando li isso tive a sensação de que tudo já foi escrito, rabiscar em folhas em branco agora é uma perda de tempo.
Sei, estou na periferia dos grandes debates, que ditarão os rumos dessa grande merda. Não faço a mínima ideia do que é mais importante, se a denúncia de estupro de um carinha famoso ou a liberação de mais agrotóxicos. Ou se é o desabafo da garotinha descrevendo no Facebook os detalhes dos conflitos com sua mãe, avó de sua cria, ou se é o desaparecimento das abelhas. Ouço gritos de socorro nesses bueiros e aposentos de casarões abandonados. Cada qual superdimensionando suas paranoias. Hora ideal pra um médico entrar em cena e anunciar o temido câncer no ****. Então a garotinha quer que o mundo todo saiba que, entre Ela e sua mãe, os canais afetivos e de comunicação não funcionam? Teu rabo, minha filha!
Esses dias rolou uma campanha pra juntar dinheiro pra um sujeito poder conhecer pessoalmente seu grande amor, que garimpou nas redes sociais. Dinheiro pra passagem, dinheiro pra hospedagem... Então eu devo doar meu dindim pra uma criatura que não conheço poder viajar e conhecer seu grande amor? Ah, tá, grande coisa, teu cu que eu faço isso!

(B. B. Palermo)

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Somos especialistas em coisas e somos felizes

Eu queria te dizer, muitas vezes eu te disse, como você me aguenta, eu queria te ver todos os dias, com essa minha cara ingênua, de quem não tá nem aí pra foder, pra sentir teu cheiro, pra ouvir tua voz e esperar pelo menos um abraço.

Você sabe que estou mentindo, eu queria pular as preliminares, chover de vez no mundo essa porra aprisionada, eu sei, estamos distantes, não falo do espaço, acho que é questão de tempo, sei lá, ganho ou perdido, o tempo é uma senhora chamada morte que me espera implacável em algum lugar. Meu tempo congelou ou derreteu, como os neurônios. Dá medo essa história de só pensar em trepar, deitando tarde e depois largar os tragos e tomar emprestado teus sonhos, aqueles mais ingênuos e infantis.
Sempre aparecem as encruzilhadas e que merda culpar-se pelas escolhas previsíveis, se pintores escalam mansões e serventes de pedreiro despencam de andaimes e o cão da madame está com câncer.
Suporto a ideia de você abraçando e comendo outro e dormindo enroscada e enfim suporto a ideia de você viver o sexo com outro. Aí me vingo comendo umas velhas devassas e suas xerecas reluzentes e fedorentas e coloridas com os mesmos carimbos de carne de açougue. Até quando trepo uma garota com raiva carinhosa fico um touro medieval e não alcanço o orgasmo porque não é você.
Você vai rir se eu te disser que escrevo essas coisas no bar ouvindo dois jovens trabalhadores inclinados na mesa ao lado falando do absurdo que é o preço das peças de suas máquinas, do esforço e do prazer que dá terem o carro rebaixado e pagar carnês e carnês das coisas que investiram nessas ditas cujas. Puta merda, Eles sabem tudo de mecânica e de ofertas no mercado virtual e eu enfio as unhas nas nádegas: meu tempo deve estar dançando bêbado e sozinho num baile de terceira idade.
Você pode rir, mas eu te digo, ando de saco cheio das coisas e dos áudios e vídeos que recebo pelo WhatsApp de crianças com trinta e quarenta e cinquenta e quase sessenta anos, aqueles seus delírios de 38 graus de febre.
Adeus papos filosóficos e metafísicos e literários e científicos, que buscam desviar-se do cotidiano, eis o tempo das coisas em dez suaves parcelas sem juros e acréscimo. Coisas nos depósitos, em ordem e numeradas, nas vitrines, coisas que as pessoas vestem e fotografam e compartilham, com seus piercings e tatuagens e cus sujos e cuecas e calcinhas e bolsas de grife.
Morro de inveja do entusiasmo com que falam das coisas. Queria ter esse entusiasmo pra desvendar o que se passa nos porões desses serzinhos que raptam travecos lindos nas esquinas opacas das madrugadas, seu medo da morte e desejo reprimido, isso pouco importa pois em casa aguardam dúzias de soluções, meia estante de livros de auto-ajuda. Foda-se, quando eu preciso me abster do álcool parto pra Água de Melissa que contém doses generosas de álcool e uma bula alertando pro risco da hepatite no fígado.
Juro que reservo doses ridículas de energia só pra te desvendar, ou conhecer ou, vá lá, pra imaginar outro serzinho pelado contigo enquanto bato minha punheta desesperada, graças a Deus você se libertou do meu bafo e do meu ronco e do meu pessimismo e lirismo careta.
Juro, quis encontrar poesia na academia, entre uma selfie e uma sessão de exercícios pra fortalecer braços e pernas e a mente conectada no pauzinho sofrido.
Tenho vontade de perguntar a esses sujeitos: o que você sonha realmente fazer, como você viveu a infância e suportou a adolescência, onde você se perdeu, onde você se encontrou. E pare de falar dessa bosta, disso que você nunca soube descrever na sua plenitude. Pare de delirar, enquanto coça o saco: "Meu, o que é a felicidade?".
Jesus Cristo! Os cretinos voltaram a falar de amortecedor
de barra de direção
de teto solar
de luz de Led
do tamanho do porta malas
do ponto do opala desregulado
do carburador e da correia dentada
- a correia dentada, meu Deus!
Os caras bebem cerveja de qualidade e devoram chips e a marcha do mundo está fermentando. Todos os mapas estão certos, nós é que estamos errados, estamos fascinados pela trilha das coisas, o caminho do ouro.
Meu bem, todos estão fingindo, a vida é um grande teatro, adeus separação entre palco e plateia, atores chegam de todo canto, de todas as cores, nas ruas e lojas e bares e farmácias
eu estou fingindo
você está fingindo
e assim vamos trotando a vida
eu coloco coisas na tua bebida
você coloca carro e apartamento e profissão nos meus sonhos literários
e até na beira do precipício pensamos que somos sinceros e completos.
Hoje acordamos tarde. Zonzos e dopados e a noite é um presente que nos merecíamos.
Inclusive essa tua visão acadêmica ingênua que às vezes trepa, e eu sei que vou dizer e você finge que vai escutar, eu sei, isso me deixa mais broxa e preenchido de plenas esperanças.
Cerveja ruim, papos ruins, o que importa é que somos papagaios e macacos e especialistas em coisas e temos paus nem sempre normais que nos frustram na hora do vamos ver e somos especialistas em coisas e somos felizes.

(B. B. Palermo)

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Sou feliz, Ela curtiu meu blues


Quando Ela viajou, compartilhamos pelo WhatsApp novidades bem comportadas, sobre literatura e música e poesia e essas "coisas" que tanta gente escreve e publica, mais sujeitos fuçando no teclado do que sujeitos leitores. Não sei se Ela vestia pijama ou apenas calcinha, peitos fartos posando para quadros baratos na parede, ou se estava comendo pipoca ou mascando chiclete ou fodendo com  algum carinha.
Nessa hora me impregnou o verso de uma música: "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro". Me sentia mais ou menos, aquela sensação de impotência ou inutilidade, algo como esbarrar, no supermercado, nuns carinhas de classe media, talvez funcionários públicos, pesquisando, introspectivos, algo imprescindível para a mecânica perfeita do universo: o preço do tomate e da cebola e do brócolis e do pimentão.
Sentia-me impotente e com a sensação de tempo jogado fora, semelhante à cena de uns marmanjos cujos para-choques dos carros beijaram-se de leve no sinal, e isso, puta merda, desencadeou discussões pavorosas e dezenas de telefonemas à polícia e à seguradora. Adoro trocar esse tempo perdido por umas punhetas deitado no sofá na hora da sesta. Está bem, concordo com vocês, não tenho o direito de criticar a maneira como as pessoas jogam fora o seu tempo, quando minha cabeça é refém dos vícios, como as bebidas e sexo.
Basta notar a seriedade Dela carregando uma dúzia de frascos de esmalte, da sala pra sacada e pro banheiro, ou fazendo a limpeza dos pés, ou depilando as axilas ou virilhas, que eu sinto o medo de sempre, como é difícil morar junto e conciliar diferentes paranoias. O que eu mais carrego de um lado pro outro são os fardos de latões de cerveja.
Vocês diriam, Cadelão é um egoísta, não suporta dividir o pão, a carne moída de segunda e às vezes de primeira e a sobremesa, as contas de condomínio, o IPVA, os cartões de crédito e o amor.

Ela fareja bem demais. Encontra-me em qualquer um dos 50 bares dessa cidade careta. Vomita as queixas previstas mas que ainda me emocionam e enchem de culpa. "Cadelão é um poetinha de merda que não suporta viver em bando".

Sofro, porque eu lembro emocionado os dias sem tempestades, quando Ela me aguarda de pijama e meias surradas porém limpas cheirando a amaciante Lírios do campo e de pantufas, ou quando passeamos no Monza e Ela veste o mesmo pijama e casaco por cima porque o inverno é um teimoso e, olha como posso ser feliz, Ela até disse que curte o meu blues.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Um brinde aos cacos desses copos



O cara da moto potente desafiando a solidão
voa pelas avenidas esburacadas dessa cidade pacata
no domingo de manhã.
Um suicídio vagaroso
e doloroso e fiel tal qual o meu
empilhando garrafas vazias.

Dias úteis dos operários cansados
são inúteis.
Um brinde aos cacos
desses copos que enfeitam nossas mãos
como se fossem rosas.

A máquina desesperada
circulou também pela tarde,
talvez estivesse depressiva
ou chapada.
Final de domingo
ônibus das bandas que animam bailões
roncam pra cima e pra baixo.
Os coroas têm opções de contar nos dedos
nos finais de semana:
bailes ou missas ou cultos
ou programas de auditório de TV.
Velhos e velhas fodem pra valer
e o tempo está se esgotando,
danem-se as DSTs
dane-se o HIV.

Familiares, relaxem,
o atestado de óbito não alegrará fofoqueiros desocupados,
dirá apenas que foi "morte por causa indeterminada".

(B. B. Palermo)

domingo, 22 de setembro de 2019

Trechos de Henry Miller


“Isto não é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de caráter. Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto, uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza... e do que mais quiserem. Vou cantar para você, um pouco desafinado talvez, mas vou cantar.”
***
“É exatamente porque as probabilidades são todas contra você, precisamente porque há tão pouca esperança, que a vida aqui é deliciosa.”
***
“Sou um homem livre - e preciso da minha liberdade. Preciso estar sozinho. Preciso meditar na minha vergonha e no meu desespero em retiro; preciso da luz do sol e das pedras do calçamento das ruas sem companhias, sem conversação, frente a frente comigo, apenas com a música do meu coração como companhia.”

Pílulas diárias de fofoca

  – Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...