segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Trópico de câncer - Henry Miller

Germaine era puta. Não esperava o homem se aproximar dela: ia e o agarrava. Lembro bem dos furos nas meias dela, dos sapatos tortos e gastos; lembro também que ficava no bar com uma determinação corajosa e cega, engolia uma bebida forte e saía de novo para a rua. Uma puta! Talvez não fosse tão agradável sentir aquele hálito de bebida, aquele hálito formado por café fraco, cognac, apéritifs, pernods e todas as outras coisas que ela engolia nos intervalos, tanto para aquecer-se quanto para juntar força e coragem; mas o fogo da bebida entrava nela, ardia entre as pernas onde as mulheres deviam arder e formava-se aquele circuito que faz com que se volte a sentir a terra sob os pés. Quando ela se deitava com as pernas abertas e gemendo, mesmo que gemesse daquele jeito para todo e qualquer freguês, era bom, era uma demonstração adequada de sentimento. Não ficava olhando para o teto com olhar vazio ou contando os percevejos no papel de parede, ficava atenta à sua tarefa, falava nas coisas que o homem quer ouvir quando está trepando com uma mulher. Ao passo que Claude, bom, com Claude tinha sempre uma certa delicadeza, mesmo quando ela entrava debaixo dos lençóis com você. E a delicadeza dela agredia. Quem vai querer uma puta delicada! Claude chegava a pedir para você olhar para o outro lado quando se sentava no bidê. Tudo errado! Quando o homem está queimando de paixão, quer ver coisas, quer ver tudo, até mesmo como elas mijam. E, embora seja muito bom saber que a mulher pensa, a última coisa que se quer na cama é literatura vinda do cadáver frio de uma puta. Germaine estava certa: era ignorante e robusta, punha o coração e a alma no ofício. Era uma puta dos pés à cabeça, e essa era a sua virtude!

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