Foi uma alucinada no
banheiro que trouxe a luz. Os traços geométricos dos azulejos são ridículos. Os
tapetes também. Distraído, ouvia a narração da partida de futebol na TV da sala
e meus olhos se encheram de areia ao ouvir o esforço que o narrador e
comentaristas faziam pra animar uma quimera de jogo. Teu cu! - pensei - dane-se
a obrigação de manter elevado o ibope dessas merdas de programas de televisão.
As coisas rolavam nessa
pegada no domingo à tardinha. Saquei, com vontade de dar voadoras nas portas das
casas do condomínio, que as coisas funcionam dentro de certa lógica. Sempre a
lógica que põe na cabeça da galerinha o que é normal. Nos noticiários, quando
abordam a cultura popular, tipo Festa de São João, os filhos da puta apenas
enfatizam o incremento na economia, hotéis, gastronomia. Estatísticas e
números. Teu cu que isso é normal, teu cu que isso é apenas má-fé! Isso é falta
de pauta, meus amigos!
Vocês diriam, Pare de
usar em vão o nome de tão magnífico órgão, afinal toda a natureza necessita
dessa válvula de dispersão, inclusive árvores têm ânus e blá-blá-blá...
Concordo, pessoinhas,
*** são abordados e acariciados e endeusados e, muitas vezes, humilhados... e não
apenas pelos sentidos. Há o discurso de gênero, o político e o científico e
tals. Observem a importância acadêmica de refletirmos sobre o ** do imaginário,
o ** da fantasia, o ** do inconsciente. Beiço direciona seus olhos pálidos pra
outra coisa, já que diz que sou meio repetitivo: Cadelão, e o rabo da loirinha,
hem? É... aquela que fez a dancinha da garrafa e ficou horas sassaricando no
teu colo esses dias, naquele puteiro...
Pelo amor de Deus,
deixem o ** seguir seu fluxo, cumprir sua indispensável missão, seja em árvores
ou peixes ou insetos ou bichos ou humanos. Um poeta disse que pedras têm cu!
Quando li isso tive a sensação de que tudo já foi escrito, rabiscar em folhas em
branco agora é uma perda de tempo.
Sei, estou na periferia
dos grandes debates, que ditarão os rumos dessa grande merda. Não faço a mínima
ideia do que é mais importante, se a denúncia de estupro de um carinha famoso
ou a liberação de mais agrotóxicos. Ou se é o desabafo da garotinha descrevendo
no Facebook os detalhes dos conflitos com sua mãe, avó de sua cria, ou se é o
desaparecimento das abelhas. Ouço gritos de socorro nesses bueiros e aposentos
de casarões abandonados. Cada qual superdimensionando suas paranoias. Hora
ideal pra um médico entrar em cena e anunciar o temido câncer no ****. Então a
garotinha quer que o mundo todo saiba que, entre Ela e sua mãe, os canais
afetivos e de comunicação não funcionam? Teu rabo, minha filha!
Esses dias rolou uma
campanha pra juntar dinheiro pra um sujeito poder conhecer pessoalmente seu
grande amor, que garimpou nas redes sociais. Dinheiro pra passagem, dinheiro
pra hospedagem... Então eu devo doar meu dindim pra uma criatura que não
conheço poder viajar e conhecer seu grande amor? Ah, tá, grande coisa, teu cu
que eu faço isso!
(B. B. Palermo)
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