sexta-feira, 21 de junho de 2013

Falta espaço no Brasil - David Coimbra



Tenho procurado fazer leituras lúcidas, em meio a essa torre de Babel de informações que me deparo a toda hora, com relação aos manifestos que estão ocorrendo no país. Me chamou especial atenção o texto abaixo, com sua lucidez crítico-literária que o diferencia da maioria dos colunistas que tenho lido. 



Sinto falta da Dívida Externa nessas manifestações. Houve um tempo em que todo mundo falava da Dívida Externa. Existia até um cálculo de quanto cada brasileiro devia já ao nascer. Nas manifestações de então, as pessoas carregavam faixas ou pichavam as paredes com a frase clássica: "Fora FMI!".
Tinha uma mulher do FMI que vinha para cá. Ela usava talleur e carregava uma pasta. Era uma mulher muito séria. Obviamente, estava insatisfeita com o Brasil e se reunia com os ministros e o presidente para fazer cobranças. Eu via fotos daquela mulher sisuda nos jornais e ficava com raiva dos Estados Unidos. Malditos ianques! O Briza é quem tinha razão quando falava dos interésses.
Lembro de altruístas na faculdade que juravam que, se ficassem bilionários, pagariam a Dívida Externa. Com o pagamento da Dívida Externa matariam o dragão da inflação e a serpente do desemprego, e o Brasil estaria salvo. Aqueles meus colegas devem ter ficado bilionários, porque a Dívida Externa se extinguiu como as máquinas de escrever, o dragão da inflação virou lagartixa e a serpente do desemprego agora é uma minhoca. Mas, que coisa, o Brasil ainda não foi salvo.
Hoje, nas manifestações, ninguém mais reclama dos Estados Unidos, da Dívida Externa ou do FMI. O inimigo não está mais no Exterior, embora continue no lado de fora e acima do brasileiro: é o Estado, o Sistema ou até a "Grande Mídia" e os empresários. Trata-se de uma atitude muito saudável. Alivia a pressão psicológica interna. Se você compra peças de carro roubadas, faz gato na TV a cabo, superfatura a nota, sonega imposto ou fura a fila, você faz porque o patrão e o Estado o oprimem e a Grande Mídia não denuncia.
Você vive mal, a classe média vive mal. Não teria como viver bem: 80 milhões de pessoas ascenderam de classe social no Brasil, nos últimos 10 anos. São 80 milhões se movimentando, como os hunos pressionando os germanos e os germanos derrubando o Império Romano. 80 milhões ocupando um espaço que antes não ocupavam. O Brasil foi feito para menos gente. Não há tantas estradas, médicos, engenheiros, energia elétrica, pintores, pedreiros e água para tantos consumidores. Falta estrutura para crescimento tão rápido, e quem devia prever a estrutura gastou em corrupção, inchaço da máquina pública, tudo o que sabemos.
Quando o menino cresce rápido, doem-lhe os ossos. Gera mal-estar.
O mal-estar da classe média desbordou para as ruas. A vida está ruim e alguém precisa resolver isso logo. Quem? Alguém que está do lado de fora e acima. É lá que reside o Mal. Não mais nos Estados Unidos, não mais no FMI, talvez nos gabinetes arejados do poder, talvez dentro dos carros com vidros escuros, talvez até debaixo dos capacetes da polícia. Sabe-se lá. Mas isso tudo alguém vai ter que resolver.
* Texto publicado na Zero Hora desta sexta-feira, 21/06/2013.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Nada pessoal


De-fi-ni-ti-va-men-te
eu já não suportava
morar na primeira pessoa
(me sufocava)

glo-ba-li-za-do
olho aberto
peguei no tranco
engatei segunda
           terceira
             quarta
quinta pessoas, eu acho.

- Onde você andou, bicho do mato?
Ela cutuca onça com vara curta, eu acho.

poeticamente
politicamete
(ou vice-versa, tanto faz,
não nessa ordem)
vou soltar o verbo
trocar a marcha
seguir a marcha
o que mais importa
é soltar freio
       da boca
andar numa primeira
acomodado
alienado
é besteira
é vidinha à toa
morar na primeira
pessoa
- eu acho.

Por que o jovem não deve ler - Ulisses Tavares

Calma, prezado leitor, nem você leu errado, nem eu pirei de vez. Este artigo pretende isso mesmo: dar novos motivos para que os moços e moças de nosso Brasil continuem lendo apenas o suficiente para não bombar na escola.
             E continuem vendo a leitura como algo completamente estapafúrdio, irrelevante, anacrônico, e permaneçam habitando o universo ágrafo dos hedonistas incensados nos realitys shows.            (Êpa, acho que exagerei. Afinal, quem não lê, muito dificilmente vai conseguir compreender esta última frase. Desculpem aí, manos:  eu quis dizer que os carinhas, hoje, precisam de dicionário pra entender gibi da Mônica, na onda dos sarados e popozudas que vêem na telinha, e que vou dar uma força  pra essa parada aí, porra.)            Eu explico mais ainda: é que, aproveitando o gancho do Salão do Livro Infanto-Juvenil, em novembro agora no Parque do Ibirapuera, Sampa, pensei em escrever sobre a importância da leitura. Algo leve mas suficiente para despertar em meia dúzia de jovens o gosto pela leitura (de que? De tudo! De jornais a livros de filosofia; de bulas de remédio a conselhos religiosos; de revistas a tratados de física quântica; de autores clássicos a paulos coelhos.)            Daí aconteceram três coisas que me fizeram mudar de rumo e de idéia.            Primeiro eu li que fizeram, alguns meses atrás, um teste de leitura com estudantes do ensino fundamental de uma dezena de vários países. Era para avaliar se eles entendiam de verdade o que estavam lendo. Adivinhem quem tirou o último lugar, até mesmo atrás de paizinhos miseráveis e perdidos no mapa mundi? Acertou, bródi: o nosso Brasil.            Logo depois, li uma notícia boa que, na verdade, é ruim: o (des)governo de São Paulo anuncia maior número de crianças na escola. Mas adotou a política da não reprovação. Traduzindo: neguinho passa de ano, sim, mas continua tecnicamente analfabeto. Porque ler sem raciocinar é como preencher um cheque sem saber quanto se tem no banco.            E, por último, li em pesquisa publicada recentemente nos jornais, que para 56% dos brasileiros entre 18 e 25 anos comprar mais significa mais felicidade, pouco se importando com problemas ambientais e sociais do consumo desenfreado. Ou seja, o jovem brasileirinho gosta de comprar muitas latinhas de cerveja, mas toma todas e joga todas nas ruas ou nas estradas, sem remorso.            Viram como ler atrapalha?            A gente fica sabendo de fatos que, se não soubesse, teria mais tempo para curtir o próprio umbigo numa boa, sem ficar indignado e preocupado com a situação atual de boa parte de nossa juventude.            E também faz o tico e o teco (nossos dois neurônios que ainda funcionam no cérebro, já que se dividirmos o quociente de inteligência nacional pelo número de habitantes não deve sobrar mais que isso per capita) malharem e suarem, em vez de ficarmos admirando o crescimento do bumbum e do muque no espelho das academias de musculação.            Por isso que, num momento de desalento, decidi que, de agora em diante, como escritor e professor, nunca mais vou recomendar a ninguém que leia mais, que abra livros para abrir a cabeça.            A realidade é brutal e desmentiria em seguida qualquer motivo que eu desse para um jovem tupiniquim trocar a alienação pela leitura.            Eu reconheço: a maioria está certa em não ler.            E tem, no mínimo, 5 razões poderosas , maiores e melhores que meus frágeis argumentos ao contrário:
 1.      Se ler, vai querer participar como cidadão dos destinos do País. Não vale à pena o esforço. Como disse o Lula (que não teve muita escola, mas sempre leu pra caramba), a juventude não gosta de política, mas os políticos adoram. Por isso que eles mandam e desmandam há séculos;
2.      Se ler, vai saber que estão mentindo e matando montes de jovens todos os dias em todos os lugares do Brasil impunemente; principalmente porque esses jovens não percebem nem têm como saber (a não ser lendo) a tremenda cilada que é acreditar que bacana é mentir e matar também;
3.      Se ler, vai acordar um dia e se perguntar que diabo é isso que anda acontecendo neste lugar, onde só ladrões, corruptos, prostitutas e ignorantes, aparecem na mídia;
4.      Se ler, vai ficar mais humano e, horror dos horrores, é até capaz de sentir vontade de se engajar num trabalho comunitário, voluntário e parar de ser egoísta;
5.      Se ler, vai comparar opiniões, acontecimentos, impressões e emoções e acabar descobrindo que sua vida andava meio torta, meio gado feliz.
            O espaço está acabando e me deu vontade de lembrar que ninguém -nem mesmo alguém que não vê utilidade na leitura – pode achar que há um belo futuro aguardando uma juventude que vai de revólver pra escola e, lá, absorve não conhecimentos mas um baseado ou uma carreirinha maneira. Sim, é outra pesquisa que li, esta dando conta que sete entre dez estudantes brasileiros andam armados, três entre dez se drogam na escola, sete entre dez bebem regularmente.            Mas paro por aqui já que, apesar destes tristes tempos verdes e amarelos (as cores do vômito, papito), lembro também de tantos poetas, jornalistas e escritores que, ao longo de minha vida de leitor apaixonado, me deram toques de esperança, força e fé na mudança.            De um especialmente – o poeta Tiago de Melo – com seu verso comovido e repleto de coragem:            “Faz escuro, mas eu canto!”            Talvez meu pequeno cantar sirva de guia do homem (e mulher) de amanhã. E que, lendo mais, ele/ela evite de ter como única alternativa para mudar de vida dar a bunda (e a alma) ou engolir baratas (e a dignidade) diante das câmeras de televisão.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Ela disse

Que diabos ela disse
não se faça de difícil
não reclame do roteiro
não atropele o script
não me venha com milongas
não se faça songamonga
ela disse songamonga
juro juro ela disse
não me roube a paciência
com essa cara de inocência
amar assim é impossível
com romance de alto nível
risos lágrimas e platéia
não me venha com tragédia
me amar de noite e dia
não me venha com fobia
amar com rima ou sem rima
numa prosa que não acaba
ela disse te ajeita seu vagaba
ela disse ela disse não se faça 
não se faça não se faça...
Imbecil.

terça-feira, 11 de junho de 2013

ELE & ELA - Chacal




ela quer ir ao cinema
ele já viu esse filme
ela quer um vestidinho
ele o que vai por baixo

ela pensa no futuro
ele entoca o bagulho
ela acredita no amor
ele reclama do calor

ela descabela com o desprezo
ele se penteia com arrogância
ela diz que ele sonha acordado
ele sonha com ela no escuro

ela acha ele tarado
ele coloca ela de lado
ela diz que ele é um número
ele prefere ela de quatro

ela morre de ciúmes
ele não vê nenhum motivo
ela mostra a foto do flagrante
ele diz que com ele é semelhante

ela diz que corta os pulsos
ele apresenta uma gilete
ela chora
ele é duro


O amor acontece - Adriana Falcão



Alguém diz algo e o amor acontece.
Alguém diz um absurdo e o amor acontece.
Alguém não diz nada e o amor acontece.
Alguém toma uma atitude e o amor acontece.
Alguém canta o amor e ele acontece.
Ninguém esta esperando e o amor acontece.
Numa manhã meio nublada de uma data sem importância,
em pleno sol de domingo, no dia da padroeira,
embaixo de um temporal, em qualquer estação do ano,
não importa a ocasião, é no coração que o amor acontece.
Na plateia do cinema, acontece vez por outra: 
uma cena desperta uma emoção, que desperta outra,
que desperta outra, e lá vem o amor provar que 
"a vida é amiga da arte".
Após um beijo casual, no fim de uma noite que
parecia não ter futuro, duas mãos se entrelaçam com 
firmeza, e os corações se aquecem no aconchego
do amor que acontece.
Numa madrugada fria, debaixo de um cobertor,
acontece o amor.
Acontece com a pessoa certa ou com a pessoa errada,
será que o amor descre do erro? 
Acontece de acontecer de um lado só, provocando
 dor, mas se acontece de 
dois lados, como pode ser tão bom? 
Acontece de várias formas,
sejá em encontro escondido, seja em jantar esporádico, seja
em vestido de noiva, seja em casa separadas, seja em
cidades distantes, e às vezes se transforma, modificando crenças
e planos. 
Seja como for, assim penso, vale a peno comemorar o acontecido.
Acontece de durar um dia, uma noite, uma semana,
um mês, um ano, uma década, uma vida, sem certificado de garantia, nem
 prazo de validade, ele e seus perigos, como um equilibrista no frio.
de repente, muitas vezes, o amor vai e desacontece sem que ninguém 
saiba o motivo, mas isso já é uma outra história.


Inspirado na crônica O amor acaba, de Paulo Mendes Campos.

Inspirado na crônica "o amor acaba".
Inspirado na crônica O amor acaba, de Paulo Mendes Campos.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O amor acaba - Paulo Mendes Campos

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba. "

http://www.youtube.com/watch?v=xLcjXpy5exE

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Como era bom - Chacal


O tempo em que Marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo em Freud explicava
que édipo era tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo muito mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Quero que você me locuplete

Não vi seus olhos ao vivo. Pelas fotos no facebook, eles são azuis. Nada de verdes ou escuros, tímidos de esperança.
Olhos lindos, sem a sombra dos óculos, rosto próximo à lente da máquina fotográfica, prenunciando desejos.
Não segurei suas mãos, nem beijei seus lábios. Quando o paraíso me acolher, o suor vai verter das mãos, meu rosto queimará, se avolumará meu sexo.
Não a vi na rua, indo e vindo. Com mochila, sandálias, óculos de sol. Nem a vi em casa, a se contemplar no espelho. Não vi a cor do seu batom, nem sei de tatuagens e detalhes dos cabelos.
Sei que, se puder, beijarei cada centímetro de sua pele, teus pensamentos vão relaxar no meu peito, para ditar o ritmo do meu coração.
De você, tenho apenas o que imagino.
Segurar suas mãos, beijar pescoço, boca, orelhas, morder seus lábios.
O imaginário antecipa a realidade, para o bem de minha felicidade.
Mãos dadas, passear em parques, praias, cidades distantes. Aventureiros, bem-comportados, no cinema, quermesse, na reunião com os amigos.
Na hora de dormir, em silêncio, refaço as teorias sobre o amor, como a antecipar o que sufoca minha paixão. São amores afobados para roubar a cena, como a roseira que aguarda a primavera.
Amor inesperado e desconhecido.
Amor possível e adoidado.
Amor platônico.
Amor tão tão...
Resumindo:
Quero saber tudo dos seus medos, planos, sonhos, adiados ou refeitos.
Quero tudo aquilo que a um apaixonado compete.
Para que você, inteirinha, me sacuda, desentorte e locuplete!

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Atividades na escola Boa Vista


No sábado, dia 25 de maio, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Boa Vista, de Ijuí, RS, teve um dia especial quando o Escritor -“Autor Presente”, Américo Piovesan proporcionou aos alunos e professores oficinas de contação de histórias e declamação de poesias.
Os alunos que na semana anterior conheceram os poemas do livro Teco, o poeta sonhador, em: canções do despertar  tiveram a oportunidade de dialogar com o autor fazendo perguntas relacionadas à pratica da leitura e escrita.
Neste dia também foi realizada a Feira do Livro e pinturas no rosto das crianças na escola.

http://www.ijui.com/educacao//48738-americo-piovesan-participa-de-atividade-na-escola-boa-vista.html

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Bergamota


A bergamota entrou em cena. Cor, cheiro, a olhos vistos. É a fruta da época. Enfeitou-se no outono, quando vamos treinando para enfrentar o frio do inverno. "Enfrentar" porque, para mim, o inverno exige - mais do que roupas e comidas quentes - agasalho, amigos, recolhimento.


Ah, como sentimos falta do sol nesta estação!

Como o vinho, a bergamota precisa ser domada pelo frio, e então se apresentar gostosa aos olhos e paladar.

Minha paixão por bergamota começou na infância, e hoje é bem mais afetuosa. O cheiro que permanece em minhas mãos, quando a descasco, agora é perfume. Vou devorá-la é certo, mas antes acaricio seus gomos, como se tivesse nos braços meu primeiro amor, na adolescência.

Assim é a vida. De braços abertos, a fruteira é amante. Paciente, aguarda as novidades da nova estação. Cada fruta de época tem sua magia, mistérios que se distanciam do propalado custo benefício.

Mudam as estações, caem as folhas no inverno, muitas espécies necessitam hibernar. Mas a seiva, tal como esperma e óvulo, aguarda o seu momento de entrar em cena, para fazer a diferença. Fim de pausa, com a primavera tudo brota, floresce, amadurece. Enfim, a colheita.

Quero pensar que a safra não é o fim do caminho, e sim a continuidade, uma metamorfose, tal qual a lagarta e a borboleta.

Comemos os frutos, passamos, renascemos, florescemos, somos sementes, herdamos e deixamos sementes. Fora de época ou não, há um equilíbri0, basta olhar a natureza. Tudo simples e, ao mesmo tempo, tudo cheio de mistérios.

Tudo muito lindo. O que me assusta (e comove) é ver tanta gente "engarrafada", no trânsito e na vida, hibernando, anestesiada. Sem colocar suas sementes (neurônios?) pra funcionar, deixando de nos ofertar novidades, em meio a esse agitado ir e vir.

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...