A bergamota entrou em cena. Cor, cheiro, a olhos vistos. É a fruta da época. Enfeitou-se no outono, quando vamos treinando para enfrentar o frio do inverno. "Enfrentar" porque, para mim, o inverno exige - mais do que roupas e comidas quentes - agasalho, amigos, recolhimento.
Ah, como sentimos falta do sol nesta estação!
Como o vinho, a bergamota precisa ser domada pelo frio, e então se apresentar gostosa aos olhos e paladar.
Minha paixão por bergamota começou na infância, e hoje é bem mais afetuosa. O cheiro que permanece em minhas mãos, quando a descasco, agora é perfume. Vou devorá-la é certo, mas antes acaricio seus gomos, como se tivesse nos braços meu primeiro amor, na adolescência.
Assim é a vida. De braços abertos, a fruteira é amante. Paciente, aguarda as novidades da nova estação. Cada fruta de época tem sua magia, mistérios que se distanciam do propalado custo benefício.
Mudam as estações, caem as folhas no inverno, muitas espécies necessitam hibernar. Mas a seiva, tal como esperma e óvulo, aguarda o seu momento de entrar em cena, para fazer a diferença. Fim de pausa, com a primavera tudo brota, floresce, amadurece. Enfim, a colheita.
Quero pensar que a safra não é o fim do caminho, e sim a continuidade, uma metamorfose, tal qual a lagarta e a borboleta.
Comemos os frutos, passamos, renascemos, florescemos, somos sementes, herdamos e deixamos sementes. Fora de época ou não, há um equilíbri0, basta olhar a natureza. Tudo simples e, ao mesmo tempo, tudo cheio de mistérios.
Tudo muito lindo. O que me assusta (e comove) é ver tanta gente "engarrafada", no trânsito e na vida, hibernando, anestesiada. Sem colocar suas sementes (neurônios?) pra funcionar, deixando de nos ofertar novidades, em meio a esse agitado ir e vir.
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