quarta-feira, 13 de março de 2024

Novo homem!

 

Grãos de areia interditaram meus olhos

nesta quarta-feira de tarde,

bastou umas calcinhas no varal

tomarem banho de sol

e ousarem me decifrar

com seus olhares

insinuantes.

As libertinas acertaram o coração

do meu Calcanhar de Aquiles

e despejaram em lixeiras os meus planos e promessas

de mudar de vida.

O slogan, era:

Agora vai! Atividades físicas regulares,

boa alimentação e emancipação das bebidas!

Aposto que as diabinhas não ocupavam o varal

por acaso!


Fito-me diante do espelho

e ouço a gargalhada ‒ parece uma caturrita

comemorando um prêmio de loteria.

O som é o mesmo da máquina de lavar roupas,

batendo, pulando...

Imediatamente, lembro do Padre Alfredo,

nos tempos da adolescência, nas missas de domingo.

O pirotécnico mirava os olhos da garotada

e erguia o tom,

profetizando:

“Novo homem!

Novo Homem!

Novo homem!”.

Aqui no banheiro, o padre já não esbraveja.

Apenas ri, feito caturrita de batina.

Ri com vontade, até minha imagem

embaçar.

 

(B. B. Palermo)


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