segunda-feira, 24 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Uma aquariana bipolar
Chegamos os três na
boate, meus dois amigos pareciam os Três Porquinhos e eu estava pra Lobo Mau.
Logo avistei, numa banquinho junto ao balcão, aquele cabelo e aquela pele
morena. Várias gatinhas de minissaia, corpos na feira, e ela numa saia discreta. Nossas mãos se tocaram e um arrepio me percorreu, Meu Deus, encontrei
minha alma gêmea. Alcancei-lhe dez reais e disse Escolha as músicas que você
gosta e ela foi direto em Raul e Legião Urbana e começou a dançar e quando
sentou abriu seu coração e eu escutei durante horas. Ergueu a saia e mostrou a
tatuagem na coxa direita, uma Fênix que ia da virilha até perto do joelho e
acho que isso foi a gota d’água. Cinco horas da manhã a conta disparou e o
Beiço sabia que eu andava duro e então ele passou o cartão.
No carro, Dr. Biza
anunciou que não podia voltar para casa, disse à sua companheira que havia
viajado. Eles comentaram sobre o belo clima que experimentei com Lili e de
imediato me disseram Seu frouxo, como você deixa escapar a oportunidade de fazer
um sexo gostoso? Afinal, não é todo dia que o céu nos presenteia com tamanha
química. Em vez de nos deixar em casa, Dr. Biza disse que iriamos atrás de uma
garrafa d’água e de uns copos descartáveis. Nos dirigimos até um posto de
combustíveis, um dos poucos que ainda estava aberto naquela hora. Diluiu dois
sachês do Pó do amor nos três copos, brindamos a Eros e voltamos pra boate. Em
minutos meu sexo acordou, depois de um tempo hibernando, e queria mostrar suas
qualidades, mas já eram seis e pouco e ela precisava voltar pra casa e levar a filhinha
ao colégio. O Pó do amor deixou meu voluntarioso endiabrado, ele latejava e
protestava, queria libertar-se da cueca e então, horas depois, eu não parei de
mandar mensagens apaixonadas e ela só rindo, rindo e curtindo.
No sábado ela veio à
minha casa. Estava sóbrio e, por isso, temia me decepcionar, ela poderia não
ser tudo aquilo. Assim que desceu do táxi, o cabelão e o salto alto me deixaram
babando. Era tudo aquilo e muito mais. Yes, dessa vez não fui enganado pelo puto
do Dioniso. Trazia na mão uma garrafa de vinho importado, dos bons, e falou o
tempo todo com aquele vocabulário sofisticado e aqueles dentes e boca lindos e
o seu cabelo me atraía feito imã. Meus olhos se iluminaram mais e mais. Pode
ter sido pelo cabelo ou pelo timbre de sua voz ou aquela boca perfeita ou o
lábio inferior generoso ou foi seu gosto musical ou seu vocabulário rico em
expressões, quase sempre ausentes em garotas da noite.
Pediu que não a visse
como prostituta, ela não era, ela estava, e eu disse Sim e então ela descreveu
dúzias de traumas adolescentes e o custo que pagou por ser a negra mais linda
entre primas e amigas e tias e outras garotas. Detalhes do estupro que sofreu de
um tio, aos quinze anos, umedeceram meus olhos e me levaram a sugar várias
latas de cerveja. Mamãe e titias, todas mulheres da noite, e eu pensei no
destino e, que merda, parece que tudo se repete, e falou da personalidade
explosiva e de tantos empregos que jogou fora. Cenas detalhadas de como chegava
aos orgasmos e aí eu cada vez mais sacava que não ia rolar sexo naquela noite.
Ela foi pela terceira vez no banheiro e disse que não iria trabalhar na boate
porque estava meio alta, fez questão de mostrar todo o seu repertório, mesmo
com vinte e poucos anos. Montada naquele corpão, veio com tudo e enroscou a
língua úmida e quente na minha e pressionou seu sexo no meu e eu sussurrei Vou
te lamber todinha, excitadíssima ela implorou Vamos, vamos pro quarto... Lambi
e lambi e ela ergueu a voz Me beija, Cadelão escroto, me beija, daí veio por
cima e quis me escravizar, rápido assumi o controle e passei a fazer uns
movimentos vigorosos naquela posição que me torna o dono do mundo e murmurei
Quem é o pai? Quem é o pai? Logo seus gemidos aumentaram e eu saquei que ela
gostou das técnicas que aprendi ao colocar em prática manuais da vida longa que
tive. Tudo rolou, rolou e foi bom. Cadelão estava fora de forma, mas é como
andar de bicicleta, Cadelão não desaprendeu.
Dias depois
emprestei-lhe uma grana pra fazer mercado e farmácia e na quinta-feira baixou
um temporal que inundou seu barraco, sua cama estava sem os pés e ficou
inutilizada e então consultei uns amigos pra ver quem poderia fazer uma doação.
De novo aquele medo de
me apaixonar e assumir uma garota jovem, mãe de uma criança. É que ela é uma
aquariana muito louca, uma bipolar, que intercala bom humor com gestos e
sentimentos expansivos e ausência no mundo, como quem passa da bebedeira pra
sobriedade ou do torpor do pó cheirado e curtido pra realidade deprimente do
horas depois que aquilo passa. O pior é que ela quis me enquadrar. Sim, o maior
motivo pra me afastar ocorreu depois que ela insistiu pra que eu frequentasse
com ela, todos os domingos, a Igreja
Evangélica Abominação À
Vida Torta.
(B. B. Palermo)
sábado, 15 de setembro de 2018
Bárbara, meu amor
Bárbara, meu amor, eu
não me importo que você goste de música sertaneja, nem me importo que você
devore, num apetite absurdo, os lanches de mamãe.
Quando você vem do
trabalho, quando você desce do carro, quando você atravessa a rua e vem pra
mim, dispara meu coração. Mas você não vem pra mim, você vai pro fundo do bar e
dá Oi, Benção mamãe, benção papai.
Eu peço outra cerveja,
caneta e papel humilhados, apenas meus olhos se alegram.
Bárbara, você dá Oi,
tudo bem?, como se quisesse me respeitar, mas sei que você vive me zoando.
Você anda distraída
pelo bar. O canto do teu olho me observa... Não, não, não, isso é fruto da
minha imaginação.
Você é sereia demais na
praia que curto. Teu abraço é aeroporto pra Jumbo, e eu não passo de um
vacilão.
Bárbara, posso te
ensinar de tudo. Esportes, estética, filosofia e economia, mas não inflaciones
meu coração.
Meu amor, eu não me
importo que você não me queira. Eu só preciso te ver pra saber que você está bem.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Saco de pancadas
Preso a labirintos surreais, estou embriagado de ilusões.
Uma parte de mim é
estatística, outra parte é mitologia.
Não me conformo, pois
sinto nos ossos que a estatística, raio-x, atravessa meus órgãos feito
ultrassom.
Algo resiste, não
quantificável, um sensível bebedor.
As pesquisas conhecem
uma fatia de mim, o rosto da vitrine, outdoors nas esquinas.
Os números me chamam
pra dançar, mas os ritmos estonteiam. Dá vontade de vomitar.
No embalo da dança,
socos bem direcionados me embretam, jabs de esquerda e de direita entram
direto, golpes na linha da cintura e supercílios e rins mutilados.
Lutador vencido, aqui
estou, saco de pancadas, jogado aos leões.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 11 de setembro de 2018
Animalzinho assustado
Arredio, lembro que
olhava para todos os lados, mas não sabia pra onde ir. Um animalzinho cercado
por predadores. De sua aldeia distante, meu corpo berrava, enviava sinais, cãibras
nas pernas, dedos trêmulos, suores noturnos, dores de barriga inexplicáveis, coração
disparado.
Com o passar do tempo
domei medos e deveres. Me afastei do mundo para sobreviver.
Também fui ovelha
seguindo ordens, mas aos poucos recusei convites para ser um líder.
Nas urnas
periódicas simpatizo cada vez mais com teclas de brancos e nulos.
Quando crescer saberei
o que fazer.
(B. B. Palermo)
domingo, 9 de setembro de 2018
sábado, 8 de setembro de 2018
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Vai com tudo, James Bond
Não tenhas medo da paixão. Enfrente essas garotas,
James Bond.
Tua Sharon Stone te aguarda, num silêncio carinhoso,
pra te libertar das fantasias impublicáveis.
Como podes ter medo, se fazes repetidos planos, da
vigília da noite ao frescor da manhã?
Pise fundo nas façanhas sentimentais, lubrifica teu
coração.
Dizem que o amor vive da falta e da procura, mas
sossega quando faz o bem.
Inspira-te nos santos, já que acreditas que devemos
mudar o mundo.
Amigo, queres ter muito dinheiro, pagar pelos
amores, pra descartá-los depois.
Tens medo do quê?
Pergunte à mamãe, pergunte ao Édipo, pergunte à
terapeuta – aquela ninfeta!
Eu sei que ela sempre vai responder:
- É um mistério, é um mistério...
(Teco, o poeta sonhador)
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Olhar assustado
(Poema Abertura, de Arnaldo Antunes)
Leio poemas de Cacaso. Um susto: batem à porta. Uma criança
pede algo para comer. A geladeira, quase vazia, guarda uma maça. Entrego-lhe
assustado, protegido atrás da porta entreaberta.
- Só isso?
Espio Cacaso sobre a mesa. Ele me devolve um olhar
assombrado. Também de violência e miséria vive nosso país.
(Poema de Cacaso)
(Teco, o poeta sonhador)
terça-feira, 4 de setembro de 2018
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