Se um homem atravessasse o paraíso em um sonho e lhe dessem uma flor como prova de que havia estado ali, e se ao despertar encontrasse essa flor em sua mão... então o quê? (S. T. Coleridge.
IN: Jorge Luis Borges. Livro dos sonhos).
Todo homem acordado habita um mundo comum; porém cada um pensa que habita seu próprio mundo quando dorme (sonha); acordado, conversa com o mundo da natureza; dormindo, com seu mundo particular... (Joseph Addison. Op. Cit. P. 60).
Há poetas que disseram que a vida dos homens é a sombra de um sonho e há filósofos que sugeriram que a realidade é uma alucinação. (Giovanni Papini. Op. Cit. P. 64).
Os sonhos desejam coisas estranhas! E eles são nossos sonhos! Então, se desejam coisas estranhas, nós também desejamos coisas estranhas... Todos ouvimos a sua voz. O problema é que os sonhos nos visitam quando menos esperamos! E estamos sozinhos na hora de escutar o que eles querem nos dizer!... Apesar de muitos afirmarem que sabem com certeza o que eles nos vem dizer. Os sonhos, ah!... Os sonhos... vai chegar o dia em que desvendaremos cada um de seus segredos!...
Dicão sonha muito. É que nos sonhos sua Voz Interior vem-lhe falar. Desde os tempos antigos até hoje, muitos adultos dizem que sabem o que é a voz interior...Mas uns não concordam com os outros... Alguns acham que a voz interior é Deus falando com a gente. Outros dizem que são energias, forças, que sempre existiram no universo... Outros dizem que é a nossa própria voz, que fica nos pregando peças e não nos deixa saber quem é... Pode ser nossa própria memória, aquele baú onde guardamos as lembranças do que vivemos no passado e que foi tão bom que não queremos nunca mais esquecer, e que foi ensinado pelos mais velhos, como nossos pais, avós e bisavós...
Também dizem que os sonhos revelam o que aconteceu em distantes lugares do mundo. Ou são previsões do que ainda vai acontecer.
Já que dizem tanta coisa, o melhor é não esquentar a cabeça...
O que importa é que, por ser um grande dorminhoco, Dicão recebe com freqüência a visita de sua voz interior... E é por isso que ele dorme tanto!... Dizem seus amigos que ele dorme demais!... Alguns acham que ele toma umas porcarias para dormir e sonhar!...
Uma vez Dicão reclamou com seus amigos de que as histórias são sempre contadas quando as pessoas estão acordadas. Por que não escutar as histórias das pessoas quando dormem? Foi aí que ele lembrou a todos que, quando dormimos, sonhamos. E os sonhos contam histórias muito importantes. Foi assim que Dicão narrou seus sonhos, e as mensagens que ele achou que transmitiam. Ele disse que não precisou da ajuda da cartomante para decifra-los!...
Um dia sonhou que caminhava pelas ruas. Era uma manhã movimentada de sábado, e ele vestia roupas brancas. Procurava as pessoas honestas. Encontrou sua Voz Interior, que lhe disse que as pessoas honestas vestiam roupas brancas.
Pelas ruas da cidade muitas pessoas vestiam roupas pretas. Essas pessoas fugiam dele, porque achavam que ele era um fantasma...
Dicão carregava uma pá, para desenterrar a honestidade, que se escondeu nas profundezas da terra. Com a pá, jogava terra nas pessoas que ele dizia serem desonestas. Quanto mais terra jogava, mais brancas as pessoas ficavam, até se purificarem, como ele...
Quando acordou, tremia de frio. As cobertas haviam caído no chão do quarto, e ele estava com muita sede.
No dia seguinte, aquele sonho martelava na sua cabeça. O que poderia significar? Pensou, pensou, e achou que a Voz Interior mandava a seguinte mensagem: tinha a missão de sair por aí para mostrar às pessoas que é legal elas serem boas com os outros e consigo próprias. E que a cor branca significa honestidade, que é o que as pessoas esperam umas das outras, pois vivem juntas, no mesmo planeta.