quinta-feira, 23 de julho de 2009
SAPO ENFEITIÇADO - Elias José
O sapo saiu sem rumo, com fome e com muita preguiça. Olhando a lua, viu voando a mais bela e miuda borboleta amarela. Parecia uma estrelinha ou uma flor voando. O sapo abriu a boca e ficou na boba espera. Na hora do bote pra engolir a borboleta, ficou parado, pasmo. De perto, a borboleta amarela era mais miuda, mais frágil e mais bela. Como destruir tanta beleza só pra encher a barriga? Era um sapo meio poeta!
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O SOM DO CORAÇÃO
Assisti ao filme O som do coração. Quer dizer, voltei a assistir. Havia passado para meus alunos do Ensino Médio, no ano passado. Lembro que havíamos debatido, após, sobre o mesmo. Dizia para eles, para além do drama do personagens envolvidos - o pai que doa o neto, quando ele nasce, e diz para sua filha, a mãe, de que ele havia morrido. O menino vivendo em orfanato, esperando ser “encontrado” pelos pais... E o jovem pai, que não sabia que tinha um filho, etc. etc. - que se ativessem, também, à mensagem que o filme trazia a respeito do lugar e papel que a música tem, ou pode ter, em nossa vida. O menino, um “prodígio” em música, tem a certeza de que vai encontrar/ser encontrado pelos seus pais através dos sons, que ele harmoniza com sua criação artística.
Nessas horas constatamos, com muita dor, a distância que separa ouvintes/saboreadores de arte de massa (ou massificada), e os gênios, com sua percepção “diferenciada” (termo usado hoje em dia também no futebol, para designar os jogadores acima da média..). Foi o que senti ontem, ao folhear um livro de história da arte, e direcionar meu olhar, por alguns segundos, às pinturas de artistas renascentistas. Há uma beleza nestas obras (seja em pintura, música, poesia, etc.), mas a possibilidade de captá-la eu não vou aprender na escola, na universidade. Nestes lugares serei apenas treinado para ver com um olhar pré-estabelecido, formatado por regras que foram pensadas pelos outros.
A sensibilidade que temos para criar ou para saborear a arte parece que vem de outro lugar, para além da educação que recebemos ao nos inserirmos numa cultura. Será inato? Não sei. A genialidade de alguém se resume na genética? De qualquer maneira, aqui estamos nós, meio zonzos com tantos sons (seja do radio, televisão, internet...), com nossos ouvidos “viciados” pelos ruídos (o que é, e o que não é música?) que teimam em se repetir, iguais para todos, sejam gratuitos ou pagos às lojas.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
DIA DO AMIGO
sexta-feira, 17 de julho de 2009
O AMOR
quarta-feira, 15 de julho de 2009
CARTUM
está conformada com a marcha do mundo e, além disso, acredita que provocar (questionando, que seja bem entendido) uma certa desordem na sociedade vai tornar a pessoa infeliz.
A MAMÃE ESTÁ
ME ENSINANDO A
SOLETRAR, MAS
EU NÃO ENTENDIA,
E ELA DISSE QUE
ERA MUITO SIMPLES:
JOEL, G-A-T-O
QUER DIZER
GATO, E EU
DISSE:
POR QUÊ?
E ELA DISSE POR
QUE É ASSIM,
E EU PERGUNTEI
POR QUE ERA
ASSIM, E ELA
DISSE QUE DEUS
QUERIA QUE
FOSSE ASSIM
E EU PERGUNTEI:
POR QUE
W-X-Y-Z
NÃO QUER
DIZER GATO?
E ELA DISSE QUE É POR-
QUE NÃO É ASSIM
E EU DISSE POR QUE NÃO
SE EU QUERO QUE
SEJA ASSIM E ELA
QUE É POR
CAUSA DAS
REGRAS...
EU DISSE QUE AS
REGRAS SÃO BOBAS
E G-A-T-O QUER
DIZER GATO É UMA
REGRA ESTÚPIDA E
ULTRAPASSADA, E
W-X-Y-Z QUER DIZER
GATO É MELHOR E
MAIS MODERNO E ELA
DISSE: NÃO TENTE RE-
FORMAR O MUNDO,
JOEL, OU VOCÊ SERÁ
MUITO INFELIZ!
E EU PERGUNTEI POR QUE
AS REGRAS ANTIGAS
ESTÃO SEMPRE CERTAS
E POR QUE AS REGRAS
NOVAS ESTÃO SEMPRE
ERRADAS, E ELA DISSE:
JÁ FUI PACIENTE DEMAIS
COM VOCÊ, RAPAZINHO,
E AGORA SOLETRE GATO
DE MODO CERTO OU IRÁ
PARA A CAMA UMA SEMANA
SEM VER TV...
E EU DISSE QUEM PRECISA
VER TV, E ELA DISSE: DEIXE
DE SER MALCRIADO, VOCÊ
PRECISA DE TV, E EU DISSE:
NÃO PODEMOS CONVERSAR
COMO DUAS PESSOAS
CIVILIZADAS, E ELA DISSE
QUE EU ARRANJEI ESSAS
IDÉIAS ENGRAÇADAS NA
RUA; FICAREI SEM TV
DURANTE UM MÊS...
E EU
DISSE
QUE
W-X-Y-Z
QUER
DIZER
GATO.
E NINGUÉM
ME
FARÁ
MUDAR
DE
IDÉIA.
A-B-C-D
E-F-G
QUER
DIZER
SOCORRO.
(Feiffer. Entre sensos e pensos. Gráfica Bahiense, 1976).
sábado, 11 de julho de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
MEDOS
quinta-feira, 9 de julho de 2009
RECOMPENSA
terça-feira, 7 de julho de 2009
FUGA
domingo, 5 de julho de 2009
VÊ É UMA CAIXA - Valéria Belém
O que fazer para nos conhecermos melhor? Nos últimos séculos as ciências desbravaram imensos territórios, na busca pelo conhecimento. Um dos territórios investigado foi o da subjetividade, cabendo às psicologias e à psicanálise essa tarefa.
Costuma-se dizer que os outros auxiliam na compreensão de nós mesmos. Seus comentários podem iluminar nossos auto-julgamentos. Bem, desde que tenhamos coragem de nos voltarmos para nós mesmos!
No livro de Valéria Belém, Vê é uma caixa, algumas crianças resolvem fazer uma brincadeira: comparar seus colegas e amigos com objetos. “Vê é uma caixa, Mauro é puro livro, pois está sempre cheio de histórias, e Diná é como um chiclete”. Como reagiu cada um, ao ser comparado com TAL objeto? Vê, passado o susto, decidiu assumir “seu jeitinho caixa de ser”. Foi além: começou a fazer caixas, para dá-las de presente.
Essa atitude desencadeou uma série de eventos afetivos nas pessoas que eram de seu convívio. “Todos a-ma-vam” os presentes que recebiam, inclusive uma mulher mal-humorada, que morava na rua da escola e que tinha um jardim. “Tanto azedume não combinava com flores perfumadas!” (p. 18). Bastou ela receber de presente uma caixa, do formato e do tamanho de uma chave, que seu coração se abriu.
Essa história nos permite questionar a respeito de quantos sentimentos e emoções trancamos na nossa caixa interior, o nosso coração, e que deixamos de dividir, perdendo a oportunidade de fazer novas amigos, seja no trabalho, nas escola ou até nossos vizinhos.
Os livros também são caixas que, ao serem lidos, nos presenteiam com aventuras, dramas, suspense, comédias, tragédias... São “caixinhas de surpresa” que vão abrir, não apenas nosso coração, mas também a nossa mente. “Caixinhas de surpresa” podem ser também as pessoas, pois suas atitudes deixarão de lado a indiferença, alterando a ordem dos acontecimentos, como fez VÊ, na história de Valéria Belém.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
RICARDO AZEVEDO - Ninguém sabe o que é um poema.
Com mais de cem livros infantis publicados, Ricardo Azevedo, nascido em São Paulo, considera-se um “bagunceiro da linguagem”. Segundo ele, poetas são sujeitinhos inconvenientes, que gostam de fazer bagunça e mudar tudo de lugar. Bagunçam a verdade, mexem com a inocência das palavras, seu som, seu peso, sua cor e seu ritmo que, muitas vezes, se insinua entre duas sílabas. Dessa forma, contrariam hábitos e convenções, “acordando” a linguagem de uma espécie de sono, enriquecendo-a com novos sentidos.
Esse “bagunceiro” não pretende explicar, mas sim partilhar suas inquietações: sobre violência, amadurecimento pessoal, o mistério que são os outros e a própria poesia.
POEMA DO TEMPO
Tem o importante que sabe que é comum
Tem o comum que se acha importante
Tem o diamante que sabe que é pedra
Tem a pedra que se acha diamante
Enquanto isso, o tempo passa levando
comuns, importantes, pedras e diamantes
Ao lermos em voz alta o poema Eu passei um dia inteiro, percebemos que o texto possui um ritmo, uma cadência que organiza as frases: isso é muito comum em poesia. De acordo com Ricardo Azevedo, esse gênero esteve ligado à música em diferentes circunstâncias históricas.
Eu passei um dia inteiro
pra fazer essa modinha,
você chega e vem dizer
que a modinha não é minha?
A modinha é minha, sim,
quem não sabe, vai saber,
não tem como duvidar,
vou provar por a mais b.
Veja só o jeito dela:
confusa, desajeitada,
coitada, destrambelhada,
capenga, desengonçada.
Basta olhar pra cara dela:
disforme, deselegante,
quadrada, mal-ajambrada,
mixórdia marca barbante.
Rima pobre, manquitola,
arremedo incompetente,
tentativa que não cola,
só amola, infelizmente.
Sem assunto, sem idéia,
banal, batida, bisonha,
lengalenga, logorréia,
sem sentido, nem vergonha.
Tal bobice é um bagulho
é tolice atrapalhada,
é só burrada e barulho,
de poesia não tem nada.
Vou parando por aqui,
já chega de picuinha.
Quero ver quem vai dizer
que a modinha não é minha!
Ao ser perguntado sobre “o que é a poesia”, Ricardo Azevedo diz que o ser humano é um ser que pergunta, e a poesia tem a ver com isso. “Para responder a suas constantes indagações, o homem inventou as religiões, as ciências, as filosofias e também as artes. Vejo a poesia e a própria literatura, ou seja, as artes feitas com palavras, como formas de perguntar, interpretar, discutir e de compartilhar, por meio da ficção, assuntos que emocionam, encantam ou perturbam a todos nós”.
Utopia
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