quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Confessando umas cachorradas


De um lado para o outro – ora vendo TV, ora fuçando nas redes sociais. Tudo muito chato. No Facebook, quase só maravilhas, é muita felicidade pra envergadurazinha dos humanos. Lembrei do Nelson Rodrigues: “Ou a pessoa confessa uma baixeza, ou não está confessando nada”.

Baixezas ou CACHORRADAS, tenho uma ideia de como são, pensando em minhas andanças com Bárbara, que tem uma profissão cujo nome é pra lá de bacana: SEX GIRL.

Um carro estaciona bruscamente ali na rua. É o velho e querido doctor Biza. Cheira a álcool, mas está ligado. Abro a geladeira e apanho uma cerveja, alcanço-lhe e retiro da bandeja alguns ovos. Ele me observa, enquanto se esparrama no sofá:

– O jeito como tu coloca os ovos na bandejinha diz muito de tua personalidade. Como tu faz com o feijão?

Antes que esboce uma resposta, ele diz, meio que zombando:

– Tem que deixar de molho durante a noite. Senão, a feijoada vai produzir muitos gases – na verdade, ele disse muitos p**dos –, e tu sabe como é sério o problema do efeito estufa!

Não queria a companhia de alguém. Mesmo contrariado, fico na minha, mas penso: Sim, doctor estrambótico, cada movimento que meu corpo faz mostra a essência do meu ser, inclusive na hora dos fogos. E tu, nobre sábio, desenvolveu a verdadeira ferramenta para compreender isso.

Ao deitar o verbo, solta no ar gotículas avinagradas, e sempre começa com um "tu sabia que...". Matutei: Bobinho, esse conhecimento que tu tanto apregoa vaza água no final. Tantas teorias e tratados – que se mostravam a solução dos problemas – hoje não passam de ridículos ensaios cômicos. Doutor, não te apegue a tanta coisa que tu escuta por ai!

Mais relaxado, Biza esparrama pela sala suas aflições, e eu sou agora o psiquiatra.

Bastou 5 dias longe dos drinques para evaporar meia dúzia de quilos. Afastou-se também da carne vermelha e dos refris.

– Cadelão, prometi aos deuses que, de vez em quando, vou dar um stop nos líquidos e colocar meu fígado num SPA. Meu guia espiritual me elogiou: “Agora tu tá bem melhor! Continue assim!”. Profetizou num jeito paternal, e intuí que me livrei de algo pesado, tipo um câncer ou cirrose. Sem meu guia por perto, sou um gênio indefeso. Com ele, sou um ser especial e que necessita de uma vida sóbria e que isso será determinante para aprumar a humanidade.

Vai despejando a coisarada, enquanto eu murmuro "aham... aham...".

Agora o Biza fala do sítio que sua mulher herdou. Eu seguro as lágrimas, tantas vezes desejei morar no meio do mato, afastado da correria e dos gritos urbanos. Criar porcos e galinhas, pescar lambaris à tardinha num córrego de águas tranquilas. Transpiro sensibilidade quando ele diz que está medicando algumas árvores – as pobrezinhas foram atacadas por cupins. Aduba, mija nelas, fala, canta e abraça suas amigas, e elas estão reagindo bem!

É muita emoção, gurizada. Não posso me queixar. Consegui uma graninha para repor e manter o estoque de bebidas. Vivemos "em um mundo sem esperança, mas sem desespero" –, foi o que disse Henry Miller na década de 1930. Agora, em 2024, parece que estamos na mesma.

Biza continua fodão. Tudo porque a mulher o botou pra correr. Passou os 3 últimos dias fornicando com umas putas sacaninhas – como é que se chamam, hein? Ah, sim, sex girls.

Em alguns dias fará a síntese dos conhecimentos adquiridos numa pluralidade de cursos online e jogará retórica pra cima da mulher e ela deitará enfeitiçada e viverão uma invejável lua de mel.

 

Que fim levou a Bárbara? Vocês querem saber.

Não sei por onde anda, só sei que me reserva um lindo lugar no reino da fantasia (ou será da anarquia?). Não sei se sou de alguém, ou se tenho alguém, ou se vagueio pelo mundo. Quando a procuro, nalguma boate, carrego a dúvida: ela ainda me quer, ou algum pilantrinha com mais grana se afeiçoou e demarca o seu território?

 

 (B. B. Palermo)

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