quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Final do campeonato gaúcho de futebol feminino



Quando sentei na arquibancada os dois times estavam aquecendo. Reparei na massa muscular das gurias... Jesus Cristo! Os músculos a mil, vibrando, principalmente as coxas... Aquelas musas derretiam meu olhar, os cabelos amarrados, a pele bronzeada de treinos e jogos no sol a pino.
O suor, a motivação, a vontade de morder a bola. Velho, eu observava tudo aquilo e também queria ser mordido, ser o cara, no caso, A BOLA... isso, queria ser pisado, agarrado, chutado.
Pouco antes de começar o jogo eu via as gurias dos dois times abraçadas, formando dois círculos perto do meio campo... As CAPITAS dando aquela moral e motivação, "Todo mundo ligada..." e "Vamos lá, todo mundo comendo a grama, é o jogo de nossas vidas..."  E então o grito "Inter, Inter, Inter!". A mesma coisa no lado do círculo com as gurias do Grêmio... "Grêmio, Grêmio, Grêmio!".
Cara, aí eu também me motivei. O sangue ferveu e o radiador furou e eu decidi ir pra copa sugar um latão de cerveja, lamber a espuma que ficou nos beiços, olhando e devorando aquelas deusas que começaram a voar no gramado.
Daí a pouco um maluco, cara de chapado, e que se desgarrou de uma torcida organizada, se aproximou com esse papo: Mano, tu viu como elas entram nas divididas... Mano, tu viu como elas se enroscam e se agarram... Mano, olha só como elas se agarram!
A criatura exibiu um punhado de notas de cem reais... e ficou dizendo pra esse Cadelão, Mano, tu é ingênuo... Mano... o que tu vê aí dentro de campo, desde a massagista, a fisioterapeuta, a técnica... as jogadoras... Mano, todas elas são lésbicas... Aí eu falei: Velho, se isso for verdade, eu tô em casa... Eu também sou lésbico.
O cara ficou me encarando e deve ter pensado "Sujeito mais estranho, véio!".
 Dali a pouco falei pra ele: Tá vendo aquele filho da puta grudado na tela do alambrado? O infeliz xinga a árbitra, a técnica adversária, a bandeirinha... Esse retardado está estragando o que o futebol tem de melhor, que é jogar com alegria.
Botei filosofia pra cima dele. Falei, Malandro, pra mim o que vale é a arte dos movimentos... O mais bonito e que me alegra é a estética da coisa...
Foi então que o inteligente veio com uma de comparar a pouca qualidade do futebol das gurias, com relação ao futebol da série A do campeonato brasileiro. "As gurias correm pra todo lado, meio perdidas... quem pensa um pouco e tem qualidade no passe e no chute vira craque".
Falei pro cara: Velho, tu tá acostumado com o futebol que passa na TV... Acorda, meu, 95% do futebol dos machos que rola no país é mais feio do que esse aqui. Além disso, acho muito mais interessante pousar meus lindos olhos nas pernas dessas gurias do que nas pernas dos marmanjos. Sempre vou preferir ver as deusas correndo atrás de uma bola.
O cara foi pro banheiro. Aí o segurança do bar, que observava e ouvia nosso papo, se aproximou e falou: Fica ligado, meu, esse cara é uma "mula".
No segundo tempo foi gol em cima de gol. Putz, a comemoração das gurias me pareceu uma imitação do jeito de comemorar que sempre se vê no futebol masculino. Puta merda, não acredito que elas estão imitando os caras! Elas deviam se agarrar e se abraçar e se beijar daquele seu jeito "lésbico" (kkkkk... Claro que isso só passou pela parte mais "suja" de minha cabeça... Não falei pra ninguém... Imagina ser carimbado como um simpático machista).
Matutei: As gurias não tem que reproduzir o que o futebol tem de pior, que é a violência, a competição... e de valorizar apenas a vitória, ainda mais quando o jogo é feio... Observei as comissões técnicas, suas olheiras, carinhas de pouco sono e muito estresse. É o que se ganha quando se encara o futebol apenas da perspectiva dos resultados, ou seja, quando só interessa a vitória e o lucro. Pensei: Velho, acho que essas criaturas quase não dormem. Caralho, parece que estão se transformando em máquinas!
No final do jogo, não sei por que, fiquei meio triste. Sendo uma decisão de título, enquanto um time de deusas ficou superfeliz, o outro time de deusas ficou hipertriste. Velho, eu me dividia. Não sabia se comemorava o título com as campeãs, ou se abraçava as garotas derrotadas e chorava junto. Como tinha muita gente comemorando, no gramado e arquibancadas, pensei que minha missão era consolar as gurias que perderam. Foi o que fiz. Me dirigi até o seu vestiário. Ao chegar, fui barrado por um segurança, um armário de uns dois metros de altura. Droga... Eita vida cruel. Velho, acho que nasci numa época errada... Só Pode... Ninguém me compreende!
Mas ainda não quis me retirar do estádio. Havia algo guardado para mim, pensei. Observei uma repórter de TV perto da boca do túnel. Era a Kelly Costa. Caramba, como ela é linda! E ela me viu... Gente, Ela trocou olhares comigo! Sim, me pareceu interessada em saber quem eu sou...
É isso aí, velho, com esperança o mundo tem tudo pra dar certo!

(B. B. Palermo)

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