segunda-feira, 22 de abril de 2019

Diário do Cadelão



Ultimamente tenho me sentindo sozinho nesse mundo. Faz tempo que não como ninguém. Mas não é esse o motivo de tamanho sentimento de solidão. Já estive pior. Só fui comer uma beldade humana aos dezoito anos, depois dos primeiros soldos do serviço militar. Então, vislumbrando a velhice logo ali, passar um ano de punheta é fichinha, como diria Janusa.
Hoje me cobro da minha dificuldade de convívio. Quando chovia garotas, eu tinha pouca paciência e logo elas já iam embora. O medo agora, afastado delas, é de ter o coração mole, a ponto de idealizá-las, como se não tivesse aprendido com a brutalidade dos relacionamentos que vivi.
A Janusa, meus amigos, é o último traveco que chegou no puteiro da Janete. Olha, foi a Janete que jurou. "Putos, na minha casa, nunca mais!". A Janusa era da fronteira, e num mês de casa comeu todas as meninas. Traçou-as de graça, pra desgraça da Janete.
Meu sentimento de solidão vem acompanhado de uma ânsia de vômito, parecida com a do personagem Alex, depois de passar pelo tratamento Ludovico, no filme Laranja mecânica. Não, não meus amigos, não é pela impotência de não poder agredir alguém ao fazer sexo, como aconteceu com o personagem aquele. É por repugnar ações triviais.
Esses cretinos não falam da morte, da possibilidade da sua morte. Ninguém quer examinar as formas do belo e do justo. Todos querem analisar o melhor pó da cidade, o pau mais grande da cidade, o último hit do rádio, o carro com o som mais potente. Ouço o garoto de vinte e poucos anos falar da massoterapeuta ninfomaníaca, isso, uma garota que não consegue matar a fome, sempre quer foder mais e mais. Não acho engraçado ouvir esses imbecis endeusarem o sexo, ora bolas.
Doutor Murphy, na década de Setenta, disse que os felizes e os alegres, os de bem com a vida, esses não sonham, ou quase não lembram dos sonhos. Ele é muito ingênuo. Na visão Dele, sou mais um infeliz, pois constantemente me sacodem na cama terríveis pesadelos, e alguns sonhos espantam durante horas o meu sono. Sim. Às vezes parece que vírus saltitam nas veias, todas elas, as principais e as secundárias. Outras vezes são as ninfetas que despertam dentro do meu quarto, e rebolam, e rebolam... Vou poupá-los dos detalhes... Quando acordo estou esgotado, como se tivesse trepado horas e horas a fio.
Pensei essas coisas compondo as primeiras páginas do meu diário. A Janusa, hoje veterana de guerra, ao ler essas páginas me falou que diário é coisa de veado. E me lançou um olhar daqueles, enquanto empinava um litro de ceva, cara... Deus do céu!

(B. B. Palermo)

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