A casa toda é uma bagunça, como o quarto do adolescente. A vida parece descarrilada. Parte é o caos do seu país, e outra parte aceita na sua conta.
Tudo se repete. Não sabe pra onde vai.
Nessas horas, alguns fios de conversa com amigas ou até conhecidos, uma sugestão, uma lembrança boa, ela vê despontar uma luz. Pelo menos durante uns dois dias.
Como a chuva rápida que refresca o clima, a angústia empalidece. Corre, reorganiza os livros da estante, empolga-se de novo com trechos soltos que um dia sublinhara com sincera emoção.
Canta, não apenas no chuveiro, músicas que emergem do fundo de sua alma.
E de novo ela junta as peças, dá-lhes um sentido. Sim, a confusão não se foi de todo, a angústia é um tigre a espreitar. Mas agora ela ri, pouco importa se está sem pai. Filosofa: a falta de sentido também faz parte do jogo. Se há salvação, por que tanta gente depende de um pai, seja um governo, um líder religioso ou educacional? Ou inventaram a "salvação" por causa de sua dependência?
Agora ela ri dos seus limites. E dos outros. Os que precisam de um pai, que seja bússola no horizonte.
A multidão suplica, xinga, grita. De sua janela, não disfarça o semblante cético. Parece que se dissipou a névoa. Em suas mãos eu vejo um cartaz: fuck you.
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