terça-feira, 21 de outubro de 2014

Bando de escrotos


O texto a seguir é a reprodução do bilhete-desabafo escrito por um adolescente que ameaçou suicidar-se. O texto é reproduzido na íntegra, para preservar sua autenticidade. Comenta-se que o autor desta carta leu meia dúzia de vezes o livro “O apanhador no campo de centeio” e que, portanto, sua atitude deve ter sido influenciada pelo mesmo.

Como são cretinos esses escrotos, bando de exibidos, punheteiros, tronchos!
Se todo mundo finge, eu finjo. Se todo mundo mente, eu minto. Não dá nenhum trabalho ser escroto. O cinismo escancarado, sem culpas, provoca meu vômito. 
Grande coisa, dizer que nos colocamos no lugar dos outros!
Tradição, família, propriedade, os que se autoproclamam do bem, ou do mal... Como sempre alopramos, pobres vítimas de um sistema injusto! 
Vou entrar na onda e dizer que não estou cagando para a cretinice de todo mundo!
Se todos querem o paraíso, basta pronunciar com toda pompa “Amém!”, “Aleluia!”, e fazer de conta que somos puros. Citar dezenas de frases surradas e colocar na boca de alguns gênios: Shakespeare, Clarisse Lispector, Manuel Bandeira, Drummond, Quintana... e espalhar por aí. 
Patéticos, dizemos que tudo isso pertence a uma força maior, o movimento harmônico do universo!
Papagaiamos que esse é o melhor dos mundos possíveis, e que amanhã seremos outros, após lermos meia dúzia de receitas de autoajuda!
Já não tem graça parecer todo certinho e, ao mesmo tempo, dançar no ritmo perverso. O que me admira é que gostamos de ser cínicos escrotos, e quando ninguém vê atropelamos quaisquer regras sociais, fazendo de conta que não temos nada com isso.
Vou fazer de conta que não há depravação no cair da noite. E que entre as quatro paredes não há ironia, deboche, depressão e suicídio! 
Vou fazer de conta que agarro a felicidade com dois litros diários de coca-cola, e que tenho a meus pés as mais lindas pequenas do pedaço!
Vou fazer de conta que sou narciso, que rende segredos, comentários, paqueras  e cochichos entre as garotas. 
Vou fingir que sou ingênuo, e que não tenho noção de pra onde tudo vai nos levar!


(TIRADAS do Teco, o poeta sonhador)

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