quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

matinê


"Coisa mais triste quando, ao recordar um amor, a gente tenta lembrar: qual era a nossa música? E não havia". (Martha Medeiros)

Nas últimas músicas da matinê, aos domingos à tarde, é que eu procurava minha paixão adolescente para dançar.
mas quase sempre ela já tinha par.
Quando esperava por mim, minha timidez dava um jeito de estragar tudo.
Eu vacilava, ía e não ía, e logo  a música (perfeita) acabava.
As últimas músicas eram românticas, "lentas", imagino que para aproximar os corpos...
Sentir, em toda a sua extensão, o calor da paixão... E ficar a semana imaginando...
Nesse faz de conta, o amor era perfeito.
Alcançávamos o paraíso, e a duração era do tamanho da eternidade.
Mas na hora de colocar o amor em prática, conseguíamos estragar tudo!
cresci e fui me ajustando, e sendo ajustado, pelo lado prático da vida. 
Era uma necessidade.
 Tudo funcionava, mal ou bem: agendas, horários, cobranças.
Ajusta daqui, conserta (e concerta) dali, ganhamos alguma experiência, e até alguma sabedoria.
Mas as dores de amores continuam as mesmas.
E quando ouço aquelas músicas, cúmplices da minha paixão, volto a ser guri, um poeta sonhador.

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