segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O LUGAR DOS LIVROS EM NOSSA VIDA





Vocês já repararam, nas cidades em que habitamos, a quantidade de farmácias? E quantas livrarias há, em comparação? Pois é, isso mostra o valor que damos aos livros, e sua relação com nossa saúde, principalmente a psíquica.

Encontrei uma pequena história, escrita pelo Leo Cunha (escritor mineiro) que ele ouviu, numa palestra, do Escritor Pedro Bandeira:

"Outro dia, em uma palestra, Pedro Bandeira mencionou uma situação: uma madame foi à escola com seu filho para reclamar do preço dos livros, Pedro viu que o menino estava calçado com tênis importado e disse: “Ô minha senhora, não é o livro que é caro. É a senhora que prefere investir nos pés do que na cabeça dos seus filhos”.



O auditório aplaudiu de pé. A tirada do Pedro me lembrou de um caso divertido da minha infância: estávamos em casa quando a mãe de um colega chegou, aos prantos, e tocou a campainha, ela explicou: “meus serviçais não param de brigar!”. A casa dela ocupava quase um quarteirão e tinha uns oito serviçais. Mas ela disse que não era aquele o motivo da visita, ela queria saber se minha irmã tinha terminado de ler o livro, para emprestar ao filho dela!


Mas apesar disso, minha mãe acabou emprestando o livro".
 

Por essas e outras é que Brasil tem mais de 40 milhões de analfabetos, sem contar os outros tantos milhões que sabem ler e escrever, mas não conseguem interpetar nada do que lêem. Isso explica o fato de elergermos "Tiriricas" para nos representarem na política.

O texto abaixo também fala dessas questões. O valor que damos aos objetos, inclusive aos remédios, se comparados aos livros, por exemplo.


Você, modo de usar - Martha Medeiros

Quando caminho pelas ruas da cidade, ou mesmo quando circulo de carro, reparo em pequenos pontos comerciais em construção e na hora penso: tomara que seja uma livraria, tomara que seja uma papelaria, tomara que seja uma galeria de arte, tomara que seja um bistrô, tomara que seja uma floricultura. Vou acompanhando a obra com expectativa, até que um dia os tapumes são retirados e shazam: é mais uma farmácia.

O filme Amor e Outras Drogas dá uma amostra de como os laboratórios movimentam fortunas e estimulam o consumo de medicamentos de forma impulsiva e muitas vezes desnecessária. Remédio não é sorvete, não é banana, não é pãozinho. Mas o povo se acostumou a ingerir goela abaixo o que lhe sugerem, sem receita, sem critério, e a indústria farmacêutica prospera.


Conversava outro dia com uma amiga endocrinologista, e falávamos justamente sobre como tantas doenças poderiam ser prevenidas através da simples mudança de hábitos. Ninguém renega a importância de uma campanha de prevenção contra o uso do crack, mas há um número ainda maior de pessoas se viciando em gordura, evitando legumes, se entupindo de refrigerante, não dando a devida atenção aos produtos orgânicos, abusando do sal, do açúcar e das frituras. Seria igualmente progressista uma campanha que alertasse: comer errado, nem pensar.


Esse é só um exemplo de como a falta de qualidade de vida pode adoecer e até matar. A causa de óbitos geralmente é infarto, câncer, infecção generalizada, falência múltipla de órgãos, mas algumas dessas doenças tendem a iniciar décadas antes, por meio de uma rotina de muito stress, ansiedade, angústia emocional e neuroses não tratadas. Negativismo, raiva, frustração, nada disso colabora com nosso metabolismo.


É aí que pequenas atitudes podem fazer diferença, como praticar atividades físicas, buscar algum recurso para relaxamento (ioga, meditação, terapia, religião, massagem), cultivar amigos, dormir bastante, usar filtro solar, cuidar da postura, beber muita água, controlar o peso, não fumar, não beber em excesso, fazer check ups periódicos – e não se drogar, lógico. Os médicos têm batido nessa tecla com insistência, mas ainda há quem considere esse blablablá improdutivo ou politicamente correto demais.


Tem nada a ver com politicamente correto, e sim com inteligência. E inteligência não se vende em frascos.


Farmácias comercializam produtos de primeira necessidade. Sem elas, não teríamos acesso a medicamentos fundamentais para nossa saúde mental e física, devidamente prescritos, mas precisamos de tantas?


Creio que teríamos uma sociedade bem mais saudável se a população contasse com inúmeros pontos de venda de livros, sucos, flores, livros, discos, bicicletas, livros, frutas, bolas de futebol, raquetes de frescobol, instrumentos musicais, sapatilhas, livros e,claro, livros.
 
Zero Hora, domingo, 06 de fevereiro de 2011.

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