terça-feira, 5 de maio de 2009
MANOEL DE BARROS - O LIVRO DAS IGNORÃÇAS
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito
saudável, o Padre disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da
vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - Ele continuou.
que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas - Pois é nos desvios que encontramos as melhores
surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.
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