O cocô de sujeitos que viveram há milhares de anos
tem uma mensagem para você, dizem os cientistas
que analisam esses tipos de fósseis.
Nossos intestinos não carregam coisas mais saudáveis
do que os dos povos pré-industriais.
Hoje em dia o cocô está repleto de alimentos ultraprocessados,
e isso nada contribui para nossa qualidade vida.
Óbvio que muita coisa melhorou desde quando fazíamos cocô em cavernas,
tanto é que vivemos mais tempo do que os antigos.
A vida hoje em dia está melhor:
enquanto nas horas de lazer você se encharca com meia dúzia de litrões
de cerveja,
ou vai ao
mercado e compra uma grande variedade de alimentos e bebidas,
os
primatas rifavam sua vida na caça de animais
ou na
busca de frutas e tubérculos.
A ciência
parou de cagar para o cocô,
percebendo
sua importância para o conhecimento e a história,
e é
triste saber que você não está nem aí a respeito
do que
está sendo investigado e testado nos laboratórios.
Cadelão é
um vidente, sabe dos minutos intermináveis
de luta
que os valentões da city têm com o intestino preso.
Mas vocês
deviam se preocupar também com os pobres peixes
abocanhando
tantas merdas.
Cadelão
está convicto de que as princesas, em vez de se preocuparem
apenas com
sobrancelhas e unhas bem feitas, pra se exibirem pra amigas e rivais,
deviam
prestar mais atenção com o que depositam nesses vasos
de
banheiros limpinhos e perfumados.
A
novidade é que os segredos do nosso cocô estão sendo analisados
através
da coleta da água dos reservatórios.
Os esgotos
de nossas casas desembocam nos lagos e rios
e deles regressa
a água que jorra trepidante pelas torneiras de nossos lares.
Raciocine junto com o Cadelão, mire o todo e a
parte,
a fusão entre animal, mineral e vegetal.
Na análise da água são encontrados antidepressivos,
ansiolíticos,
tranquilizantes, cocaína e outras drogas.
Resumindo: através da ciência é possível detectar
como andam as dores de nossos corpos e almas.
Cadelão pesquisou e informa que, se forem feitas
análises
de amostras da água todos os dias, saberemos em que
dias da semana
você mais se entorpece, se é de segunda a quinta
ou nos finais de semana.
Se eu fosse você me preocupava com os peixes
que vivem nessas águas drogadas.
Pense na imagem, meio que lembrando os desenhos do
Bob Esponja:
filiais de nossas farmácias espalhadas por rios,
lagos e oceanos.
Vocês e eu sabemos que tais drogas, como
antidepressivos, salvam vidas,
e que no atual estado de coisas é difícil reduzir o
seu consumo, aliás,
vem acontecendo o contrário.
O negócio é investir no tratamento do nosso esgoto.
Afinal, nossa alma drogada porque sofredora,
conduzida por tubulações fiéis à gravidade,
desemboca no rios, lagos e até nos mares,
e deles retorna em forma de água
"limpinha",
que jorra cristalina
pelas torneiras
de nossos lares.
(B. B. Palermo)