O cérebro do amigo
está acelerado
e isso coloca em jogo
úlceras e gastrites,
ou até coisa pior.
Pedreiros drogados das periferias
não estão atrás de grandes serviços,
mas sim de bicos que rendam trocados
pra acalmar sua dependência.
Isso faz com que os planos do amigo,
de edificação da obra da década,
permaneçam rentes ao chão.
O inferno também são os bicheiros,
que o transformam num marionete.
Os espertinhos sabem como criar
e manter a compulsão pelo jogo
dessas pálidas criaturas.
Copo firme na mão,
dirijo ao amigo opiniões lúcidas:
Velho, estou preocupado contigo.
Teu motor está desregulado,
o giro dessa porra está aceleradíssimo,
parece que tua pressão arterial anda em 22/14.
Tu tem sorte, não é poeta,
senão estaria na miséria
ao se deixar enjaular
por essas possibilidades ilusórias
de ganhar alguns trocados com apostas.
O poeta mantém-se à distância dessa fauna
repleta de chinelões com calibre
igual ao teu.
O poeta observa, analisa,
faz uns rasantes contemplativos,
acredita que discretas janelas distantes,
que mostram o miúdo sentido da existência,
darão o ar da graça.
No final das contas, nos parecemos.
Sonhamos com o grande prêmio da loteria,
e a cada dia nos enredamos
na miséria comum,
traindo a verdadeira namorada,
a originalidade.
Ao notar que o amigo repete e repete
a mesma grandiosa ou trágica história,
o poeta fica ansioso
como bicho encurralado
num habitat estranho,
e não tem outra coisa a fazer
senão emigrar
pra outro bar.
(B. B. Palermo)
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